Anda por aí uma polémica por causa de livro chamado "Couves e Alforrecas – os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto" que põe em causa a honestidade intelectual da escritora Margarida Rebelo Pinto, que, segundo o autor, a senhora faz auto plágio dos seus próprios livros, copiando parágrafos inteiros de livro para livro ou coisa assim. Devo declarar que li o romance da MRP "Não Há Coincidências", um best-seller que vendeu mais que coirates em dia de futebol, e fiquei irremediávelmente vacinado contra a escrita da senhora. Mas isso é um problema meu e da minha sanidade mental, com a qual a MRP não tem nada a ver. Há quem defenda que esta escrita tipo "donas de casa" tem o mérito de pôr o pessoal a ler mais livros, principalmente a quem os livros servem de decoração à estante da salinha comprada no IKEA a suaves prestações, mas cá para mim é tudo uma questão de marketing. Vamos por partes: a escritora é gira, escreve sem pretenções sobre fulanas solteiras ou divorciadas que gostam de mandar umas quecas com engenheiros de olhos verdes, papam-lhes uns jantarecos e fins de semana em hóteis de luxo, enfim, são umas putéfias com nível. Nada que uma dona de casa enfastiada por enrolar as peúgas do marido, e embrutecida pelas novelas da TVI e as mexeriquices da Caras não desejasse. MRP vai assim directa ao imaginário desta clientela frustrada e tem direito ao seu êxito, com ou sem truques fáceis como copiar os textos do livro anterior. Só os lê quem quer.
Lembro-me da esperteza saloia do senhor Dan Brown ao escrever o Código Da Vinci, sabendo de antemão que a polémica estalaria e que à conta disso o pilim iria engrossar a sua conta bancária. Marketing puro.
E o que faz então o autor das "Couves e Alforrecas", o distinto senhor João Pedro George? Lê todos os livros da senhora, e para isso deve ter um estomago muito forte, e certamente até os leu mais que uma vez para chegar à conclusão que existem parágrafos e páginas iguais em quase todos os livros. Este homem merece um prémio, porque é um sofredor. Mais, é um mártir da escrita. E merece vender tantos ou mais livros que a MRP.
Mas como reage a distinta escritora? Mete uma providência cautelar para impedir que o livro seja publicado com o subtítulo "Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto". Mas o que é isto, afinal? Marketing puro.
O rapazinho vai vender o livro como quem vende pipocas no cinema ao fim de semana, a fulaninha vai ver o seu nome nas primeiras páginas das revistas de casa de banho por causa desta polémica da treta, e com mais ou menos processo judicial ou providências cautelares os seus livros vão subir nas vendas até o pessoal esgotar as estantes do IKEA.
Marketing puro.
E é assim que com mais ou menos plágio, mais ou menos quecas com engenheiros de olhos verdes, mais ou menos polémica, se vai desenvolvendo a indústria livreira nacional, que até se pode dar ao luxo de editar aqueles livros que ninguém lê a não ser o autor e os amiguinhos mais próximos, como as "Memórias de Cavaco Silva" ou os poemas de Vasco Graça Moura.
Sabem que mais? Vender a alma é o que está a dar.
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