domingo, fevereiro 15, 2004

COMPRO ISSO PORTUGAL

Confesso que fiquei curiosíssimo com o que se iria desenrolar na reunião de gestores e empresários agendada para o Convento do Beato.
De tal forma, que encomendei de véspera todos os jornais que iriam sair no dia a seguir a tão importante evento. E o sr. Fagundes, o dono da tasca onde me abasteço dos diários, num gesto de apreço por um cliente habitual, ainda me presentiou com todos os destacáveis e ofertas a preços baixos que aqueles jornais apresentaram. Paguei uma boa maquia, mas o gesto do homem tinha de ser reconhecido.
Qual o meu espanto quando, ao ler todos os artigos que efusivamente publicitavam o que se tinha passado, não vislumbrei nenhum dos gestores e empresários que fazem este país andar.
Preocupado, e na dúvida que me assaltava, decidi tentar saber se de facto os grandes gestores e empresários tinham faltado a tal iniciativa.
Primeiro telefonei para Bragança, e no contacto com a menina Doraty, fiquei esclarecido que o mais importante empresário daquela região e dono de mais de 80% das casas de alterne e passe da península ibérica, não tinha estado na dita reunião. Após insistência minha, consegui apurar que este famoso empresário de sucesso estava a tratar de negócios na Colômbia, mas tinha enviado um seu acessor à tal reunião, não só como seu porta-voz mas também com parte do texto que foi aprovado.
Depois telefonei para o Dr. Cunha, secretário particular do maior e mais influente empresário português do ramo petrolífero, que me confirmou a ausência de tão importante personalidade, mas garantiu que em sua representação estiveram presentes alguns prestigiados colaboradores, indicando-me para ver o telejornal da SIC onde um dos seus representantes presentes, o sr. Mexia, iria ser entrevistado.
Continuando as pesquisas, contactei com o vice-presidente da associação dos industriais de vestuário e calçado do norte que me garantiu a presença de vários acessores do mais importante empresário desta área que, por razões de não saber falar português nem viver no país, não poderia estar presente. Pelo menos não seria de boa política fazê-lo. Compreendi e considerei sensato.
Por fim, desloquei-me de propósito ao Algarve e fui bater à porta da mansão do dono da “Gallery&Horst”, empresa de import/export que é a fachada do maior negócio de armas e droga deste Portugal. Após várias tentativas para entrar, apenas consegui falar pelo videofone com uma secretária executiva que me informou que o seu patrão não perdia o seu tempo em reuniões da treta, mas tinha tido o cuidado de rever o texto da missiva a entregar ao governo, tendo inclusive feito algumas alterações pertinentes.
Desta forma, fiquei mais aliviado e com a certeza que o Compro Isso Portugal vai ser uma realidade.
Em boa hora tal iniciativa acontece, pois ajudas destas são sempre úteis ao país, mais ainda quando o governo anda tão devagar a dar cabo desta merda!

sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Ainda a propósito da Noruega

Ainda a propósito da Noruega e sem pôr em causa a ideia defendida no artigo anterior, há que colocar os pontos nos iis para não caírmos, como é usual, na teoria dos paraísos “lá de fora”.
A Noruega deve a sua prosperidade e o seu bem estar ao petróleo descoberto no Mar do Norte há uns anos atrás. E colocou os proventos desta riqueza ao serviço do bem comum, ao contrário do que fazem alguns países árabes. É sabido que os países da Escandinávia eram, no ínicio do século XX os mais pobres da Europa, e que mesmo sem usufruir de riquezas naturais tão importantes como o petróleo souberam, por outras razões, dar a volta à adversidade. O clima frio, a inteligência dos governantes, a vontade popular,deram a volta ao texto. Mas…
Voltemos à Noruega. Até há dois anos atrás as infraestruturas de saúde e educação (hospitais, escolas) estavam muito degradadas. Parece que só agora os começaram a modernizar.
A Noruega é um país muito extenso e com pouca população. Para que quereriam eles uma auto-estrada de Oslo até ao círculo polar? Para fazerem patinagem no gelo? E mais: se o limite de velocidade nas estradas e auto-estradas é de 90Km/h, para que querem eles quilómetros e quilómetros de auto-estrada?
Sobre os grandes eventos internacionais, tais como Expo´s ou Europeus de futebol, é comum aos países nórdicos deixarem estas organizações para outros. A razão não terá a ver com prioridades, mas sim com a devassa das suas florestas, dos fiordes, das cidades, por gentes de outros países, pouco respeitadoras da natureza e meio ambiente e oriundos principalmente do sul da Europa. A questão é discutível, mas eles jogam o seu prestígio internacional na mediação de conflitos, ou no apoio a povos oprimidos, e não necessitam de acontecimentos de fachada que os povos do sul tanto gostam. Além disso, conviver de perto com estes povos não é muito saudável, na óptica deles. Estou a falar de racismo, embora muito bem disfarçado.
É claro que neste momento a Noruega é o país mais desenvolvido da Escandinávia, ocupando o lugar da Suécia e da Dinamarca que já vêm a sua Segurança Social e a sua Educação ameaçadas pela onda neo-liberal importada da amérdica. É certo que os noruegueses são muito bem pagos, talvez sejam o povo mais bem pago do mundo, mas também têm o custo de vida mais caro e seria interessante analisar porquê. De qualquer modo, quem nos dera a nós, portugas de merda, usufruir de 50% do bem estar doa actuais noruegueses.

quinta-feira, fevereiro 12, 2004

Diz compro isso

Mandaram-me isto. Como já lá fui (em trabalho) sei que algumas das coisas aqui ditas são verdadeiras. (só alterei o ultimo parágrafo)

Na Noruega, o horário de trabalho começa cedo (às 8 horas) e acaba cedo (às 15.30).
As mães e os pais noruegueses têm uma parte significativa dos seus dias para serem pais, para proporcionar aos filhos algo mais do que um serão de televisão ou videojogos.
Têm um ano de licença de maternidade e nunca ouviram falar de despedimentos por gravidez.
A riqueza que produzem nos seus trabalhos garante-lhes o maior nível salarial da Europa. Que é também, desculpem-me os menos sensíveis ao argumento, o mais igualitário. Todos descontam um IRS limpo e transparente que não é depois desbaratado em rotundas e estatuária kitsh , nem em auto-estradas (só têm 200 quilómetros dessas «alavancas de progresso»), nem em Expos e Euros. É tempo de os empresários portugueses constatarem que, na Noruega, a fuga ao fisco não é uma «vantagem competitiva». Ali, o cruzamento de dados «devassa» as contas bancárias, as apólices de seguros, as propriedades móveis e imóveis e as «ofertas» de património a familiares que, em Portugal, país de gentes inventivas, garantem anonimato aos crimes e «confundem» os poucos olhos que se dedicam ao combate à fraude económica.
Mais do que os costumeiros «bons negócios», deviam os empresários portugueses pôr os olhos naquilo que a Noruega tem para nos ensinar.
E, já agora, os políticos. Numa crónica inspirada, o correspondente da TSF naquele país, afiança que os ministros não se medem pelas gravatas nem pela alta cilindrada das suas frotas. Pelo contrário, andam de metro, e não se ofendem quando os tratam por tu.
Aqui, cada ministério faz uso de dezenas de carros topo de gama, com vidros fumados para não dar lastro às ideias de transparência dos cidadãos.
Os ministros portugueses fazem-se preceder de batedores motorizados, poluem o ambiente, dão maus exemplos e gastam a rodos o dinheiro que escasseia para assuntos verdadeiramente importantes.
Mais: os noruegueses sabem que não se «projecta o nome do país» com despesismos faraónicos, basta ser-se sensato e fazer da gestão das contas públicas um exercício de ética e responsabilidade. Arafat e Rabin assinaram um tratado de paz em Oslo. E, que se saiba, não foi preciso desbaratarem milhões de contos para que o nome da capital norueguesa corresse mundo por uma boa causa.
Até os clubes de futebol noruegueses, que pedem meças aos seus congéneres lusos em competições internacionais, nunca precisaram de pagar aos seus jogadores quatrocentos salários mínimos por mês para que estes joguem à bola.
Nas gélidas terras dos vikings conheci empresários portugueses que ali montaram negócios florescentes. Um deles, isolado numa ilha acima do círculo polar Árctico, deixava elogios rasgados à «social-democracia nórdica», ao tempo para viver e à segurança social.
Ali, naquele país, também há patos-bravos. Mas para os vermos precisamos de apontar binóculos para o céu. Não andam de jipe e óculos escuros. Não clamam por messias nem por prebendas. Não se queixam do «excessivo peso do Estado», para depois exigirem isenções e subsídios.

É tempo de aprendermos que, embora eles sejam "vikings", os bárbaros somos nós.
Seria meio caminho andado para nos civilizarmos.

(um "post-scriptum" meu - talvez se compreenda assim porque portugueses se dão bem em África - mas não faltará muito para também o continente negro nos ultrapassar)

Mais achas para a fogueira do "compromisso": é frequente ver-se nos estudos económicos sobre o país que a culpa do atraso é a baixa produtividade dos trabalhadores ???? Atão não é que estas bestas quando vão trabalhar lá para as estranjas e depois de formados e enquadrados não são tão ou mais produtivos que os outros ?? Será que são drogados pelos patrões... ou são simplesmente tratados como GENTE.
Se os vikings nos invadissem (please!!!! em vez dos espanhois) iria ser um problema para arranjar casas para tantos porteiros (pois é a única coisa para que servem 90% dos "empresários" portugueses)

quarta-feira, fevereiro 11, 2004

A MINHA INABALÁVEL FÉ NA ESTUPIDEZ HUMANA III - O COMPROMISSO

Aleluia!
Andávamos para aqui todos a bater com a cabeça no muro, sem ver a luz nem o túnel quando de repente, alguém resolve bater com a porta, dar um murro na mesa, e dizer basta! alto e bom som. E não são borra-botas nenhuns, são nem mais nem menos um grupo de quatrocentos gestores e empresários que resolveram dar um pontapé nos tomates do pessimismo geral. E com que sacrificio, deus meu! Largar a jogatina de golfe com o sr. general na reforma, deixar a casinha no Alentejo entregue aos bichos, a gestão de meia dúzia de empresas entregue a acessores, as fériazinhas em Miami ou em Bora-Bora, o jeep Mercedes entregue à estúpida da esposa ou ao filhinho mais velho para ir às reuniões da Juventude Popular, largar tudo para poderem pensar livremente no Compromisso, logo baptizado de Portugal, sim porque um compromisso sem nome não passaria de uma combinação de vão de escada, uma cuspidadela na palma da mão antes do cumprimento a selar o acordo, seria uma coisa indigna de pessoas inteligentes e esclarecidas, para além do mais gestores e/ou empresários. E eu que pensava que esses gestores eram apenas uns sovinas, uns gajos que só queriam aumentar os lucros à custa dos baixos salários, uns tipos cuja noção de investimento era trocarem o carrinho de luxo de 2 em 2 anos à conta da empresa, cuja noção de formação profissional para os trabalhadores era dar cursos de poupança de papel higiénico! Como estava enganado!
Ei-los que se reúnem, que sacodem o pessimismo como quem sacode a caspa dos ombros, que apresentam soluções milagrosas para fugirmos da crise sem fugirmos para o estrangeiro, que discursam sobre coisas tão transcendentes e metafísicas como a educação, a saúde, a competência profissional! Andámos todos a dormir durante anos ou andámos esquecidos?
Alguém alguma vez se lembrou destas coisas? Como são estúpidos os portugueses!
Mas a conclusão mais importante deste Compromisso Portugal, pelo menos a mais divulgada e de certa forma aquela que irá com toda a certeza ser posta em prática, e que resumirá no seu seio a tão famigerada aposta na educação, na saúde e na competência, é (pasme-se pela pertinácia, pela inteligência) a LIBERDADE DE DESPEDIR!
És mal educado? Vais despedido. Resolvido o problema da educação. Estás doente ou grávida? Despedimento. Resolvido o problema da saúde. És bom profissional, não fazes ondas, não chateias? Baixam-te o ordenado. Resolvido o problema da competência profissional.
Mas quanto a eles, simples gestores e empresários? O que é que eles reservam para eles próprios? Nada mais simples:
a) vender a empresa, de preferência a espanhóis.
b) entrar para um partido político. O PSD é o ideal, mas o PP ou o PS não são de desprezar.
c) uma carreira rápida como ministro obscuro e depois um lugar como deputado europeu a comer ostras em Bruxelas ou a jogar golfe com o general na reforma.
d) um lugar de gestor numa empresa pública de renome até vender uma parte a empresários espanhóis, meter algum ao bolso, escrever um ou outro livro autobiográfico ou sobre a competitividade empresarial.
e) gozar a reforma entre um ou outro artigo de opinião nos jornais, ou no conselho de estado.
f) por fim, e não menos importante, participar em seminários, reuniões, congressos onde se discutirá como sempre o congénito pessimismo nacional, o mau estado da economia, a crise de sempre.
Comparar este destino com o que está reservado a quem trabalha, conclui-se que a maior carga de responsabilidade é e será sempre dos gestores, esses iluminados.
Quanto aos outros, a sua imaginação é tão pobre que não conseguem evoluir mais alto que simples despedidos.