quarta-feira, fevereiro 11, 2004

A MINHA INABALÁVEL FÉ NA ESTUPIDEZ HUMANA III - O COMPROMISSO

Aleluia!
Andávamos para aqui todos a bater com a cabeça no muro, sem ver a luz nem o túnel quando de repente, alguém resolve bater com a porta, dar um murro na mesa, e dizer basta! alto e bom som. E não são borra-botas nenhuns, são nem mais nem menos um grupo de quatrocentos gestores e empresários que resolveram dar um pontapé nos tomates do pessimismo geral. E com que sacrificio, deus meu! Largar a jogatina de golfe com o sr. general na reforma, deixar a casinha no Alentejo entregue aos bichos, a gestão de meia dúzia de empresas entregue a acessores, as fériazinhas em Miami ou em Bora-Bora, o jeep Mercedes entregue à estúpida da esposa ou ao filhinho mais velho para ir às reuniões da Juventude Popular, largar tudo para poderem pensar livremente no Compromisso, logo baptizado de Portugal, sim porque um compromisso sem nome não passaria de uma combinação de vão de escada, uma cuspidadela na palma da mão antes do cumprimento a selar o acordo, seria uma coisa indigna de pessoas inteligentes e esclarecidas, para além do mais gestores e/ou empresários. E eu que pensava que esses gestores eram apenas uns sovinas, uns gajos que só queriam aumentar os lucros à custa dos baixos salários, uns tipos cuja noção de investimento era trocarem o carrinho de luxo de 2 em 2 anos à conta da empresa, cuja noção de formação profissional para os trabalhadores era dar cursos de poupança de papel higiénico! Como estava enganado!
Ei-los que se reúnem, que sacodem o pessimismo como quem sacode a caspa dos ombros, que apresentam soluções milagrosas para fugirmos da crise sem fugirmos para o estrangeiro, que discursam sobre coisas tão transcendentes e metafísicas como a educação, a saúde, a competência profissional! Andámos todos a dormir durante anos ou andámos esquecidos?
Alguém alguma vez se lembrou destas coisas? Como são estúpidos os portugueses!
Mas a conclusão mais importante deste Compromisso Portugal, pelo menos a mais divulgada e de certa forma aquela que irá com toda a certeza ser posta em prática, e que resumirá no seu seio a tão famigerada aposta na educação, na saúde e na competência, é (pasme-se pela pertinácia, pela inteligência) a LIBERDADE DE DESPEDIR!
És mal educado? Vais despedido. Resolvido o problema da educação. Estás doente ou grávida? Despedimento. Resolvido o problema da saúde. És bom profissional, não fazes ondas, não chateias? Baixam-te o ordenado. Resolvido o problema da competência profissional.
Mas quanto a eles, simples gestores e empresários? O que é que eles reservam para eles próprios? Nada mais simples:
a) vender a empresa, de preferência a espanhóis.
b) entrar para um partido político. O PSD é o ideal, mas o PP ou o PS não são de desprezar.
c) uma carreira rápida como ministro obscuro e depois um lugar como deputado europeu a comer ostras em Bruxelas ou a jogar golfe com o general na reforma.
d) um lugar de gestor numa empresa pública de renome até vender uma parte a empresários espanhóis, meter algum ao bolso, escrever um ou outro livro autobiográfico ou sobre a competitividade empresarial.
e) gozar a reforma entre um ou outro artigo de opinião nos jornais, ou no conselho de estado.
f) por fim, e não menos importante, participar em seminários, reuniões, congressos onde se discutirá como sempre o congénito pessimismo nacional, o mau estado da economia, a crise de sempre.
Comparar este destino com o que está reservado a quem trabalha, conclui-se que a maior carga de responsabilidade é e será sempre dos gestores, esses iluminados.
Quanto aos outros, a sua imaginação é tão pobre que não conseguem evoluir mais alto que simples despedidos.

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