terça-feira, dezembro 30, 2008

...entretanto por cá


...o próximo ano promete ser muito divertido.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Apenas uma ligeira indisposição

Ninguém se lembra quando a Micas começou a vomitar de cada vez que viajava de carro. Ao princípio ninguém ligou, era só enfiar-lhe um anti-vómito pela goela abaixo e a moça aguentava-se. Mas depois começou a chamar o gregório cada vez que andava de comboio, de avião, de barco, de bicicleta, de eléctrico, e até de elevador. Levámos a Micas ao médico que lhe receitou mais anti-vómitos e descansou o pessoal saindo-se com “isso não passa de uma ligeira indisposição”. O que é certo é que a nossa Micas à força de vomidrines andou uns tempos bem disposta até que um dia ao ver o primeiro ministro na tv sujou a carpete da sala de uma boa dose de vomitado verde. Julgando nós que tudo não passaria de uma ligeira indisposição não ligámos ao assunto, mas o que é certo é que a Micas passou a vomitar sempre que via além do primeiro ministro na tv, os ministros, os secretários de estados, os acessores, os motoristas, os líderes da oposição, e até o presidente, este brindado com um volumoso vomitado com as cores da bandeira nacional.
Vai daí passámos a forrar o chão, as paredes e os móveis lá de casa com manga de plástico para evitar o estrago e simplificar a limpeza. O material foi tanto que um administrador da Polux chegou a propor-nos sociedade. Tal como o dono da farmácia cá do bairro que ofereceu uma soma jeitosa se consentíssemos em colocar a foto da Micas na embalagem do anti-vómito.
Ora acontece que as visitas constantes da pequena à farmácia permitiram alguma intimidade com o Ruizinho farmacêutico, sobrinho do patrão. Pois bem, o Ruizinho também tinha um problema grave: sofria de violentos ataques de diarreia quando andava de transportes e sempre que via o primeiro ministro na tv, os ministros, os secretários de estados, os acessores, os motoristas, os líderes da oposição, e até o presidente, brindado com uma boa dose de líquido fecal com as cores da bandeira nacional. O Ruizinho em tempos também tinha ido ao tal médico que diagnosticou “uma ligeira indisposição” e receitou doses industriais de ultra-levure e toneladas de fraldas descartáveis. Soubemos mais tarde que este mesmo médico se reformou novo com uma choruda conta bancária à custa de comissões em vomidrines, ultra-levures e fraldas dodot, e que vive actualmente nas Bahamas rodeado de beldades de calendário.
Esta predisposição para tão ligeiras indisposições acabou por fomentar uma certa aproximação entre a Micas e o Ruizinho, que se traduziu em visitas constantes aos respectivos domicílios. Ambos perderam a pouco e pouco a cor macilenta provocada pelos involuntários dejectos orais e anais, e (milagre!) ambos se curaram das suas maleitas. A boda foi regada a champanhe genuíno e até o presidente foi convidado onde com pompa e circunstância abrilhantou o casório discursando com a boca cheia de bolo-rei. Se melhor prova houvesse para a cura dos dois pombimhos ela estava bem à vista: nem um esgar de enjoo foi detectado.

Só depois dos convidados saírem é que o Elias começou a espirrar. O Elias era agora membro da segurança presidencial além de lambe-botas a recibos verdes. Pois o homem soltava espirros uns atrás dos outros que o impediam de falar, comer ou beber. Quando perguntei o que se passava ele lá conseguiu articular entre meia dúzia de espirros que a culpa era da crise. Pois, o Elias ganhara alergia à crise. Era a crise dos combustíveis, do ensino, da saúde, do emprego, do trabalho, da justiça, dos bancos, da economia, das finanças, das pescas, da agricultura, enfim, um bonito rol de potenciais agentes de doença alérgica. Confesso que já andava bem farto de vómitos e diarreias para agora me surgir um sacana ranhoso a toda a hora. Achei que devia descansá-lo, e à falta do tal médico especialista, dei-lhe uma palmadinha amigável nas costas dizendo “deixa lá ó Elias, não há crise. É apenas uma ligeira indisposição.”

sexta-feira, dezembro 05, 2008

O Natal


O Natal. A minha relação com o Natal é a mesma relação que tenho com o senhor presidente: repulsa. O menino Jesus não tem culpa, coitado, tremelicando de frio no meio das palhinhas que devem deitar um pivete a estrume de vaca e sémen de burro, com os paizinhos em adoração estática sem um movimento sequer de tapar o rebento com alguma sarapulheira, sim porque essa treta de o menino aquecer pelo bafo das bestas que o rodeiam é uma treta das antigas. Os bichos devem exalar um hálito infernal que, dadas as circunstâncias não será de todo aplicável à quadra. Paizinhos destes já teriam um rol de queixas no tribunal e um comunicado da dra Morgado a pedir a criação de um tribunal especializado em meninos jesus abandonados ao frio nas palhinhas por paizinhos estáticos. Mas dizia eu do sr. Presidente. O sr. Presidente é também ele uma figura estática, uma esfinge, tal como ouvi dizer pela boca de, creio, um ex apaniguado. Ora no tempo em que o sr. Presidente não era presidente mas sim primeiro ministro, tinha um séquito de apaniguados que, ao contrário dos reis magos, recebiam em vez de dar. Não que o sr. Presidente fosse ele um mãos largas, um toma lá qu’isto vai chegar pra todos. Não senhor. O sr. Presidente confiava nos amigalhaços. E os amigalhaços era o ver se te avias. Nada como o nosso tão inocente menino Jesus, ao qual os reis magos ofertaram coisas incríveis como ouro, incenso e mirra, coitado do menino que estaria mais precisado de um pacote de fraldas dodot e de um babygrou da chicco. E vai daí os amigalhaços do sr. Presidente criaram negócios escuros e bancos privados como o BPN, mas alguém se lembrou de tirar a tampa e aquilo passou a cheirar pior do que as fraldas de pano do menino Jesus. E tenho repulsa ao sr. Presidente, que espero que não me leve a mal, pois se o sr. Presidente também andasse metido em negócios com estes amigalhaços pronto, era mais um corrupto para o rol e a coisa até passava. Mas não. O sr. Presidente passa cá para fora aquela imagem de impoluto, que sabe tudo, que nunca se engana, que nunca leu Saramago, e que, acima de tudo, continua a confiar nos amigalhaços. Pois é. Aquilo que andaram a vender do progresso quando o sr. Presidente era primeiro-ministro está a ficar demonstrado que não era bem assim. É tal e qual o natal. Afinal as coisas também não foram bem assim, e o pessoal já se está nas tintas para o menino Jesus nas palhinhas e prefere antes oferecer prendinhas de merda aos amigos e familiares, até fazem comboios de oferta de prendas, e atafulham os centros comerciais, e engarrafam as ruas e as estradas, os filhos da puta. E depois há por aí muita gente conhecida a brincar à caridadezinha e à solidariedadezinha, e logo nesta data do natal, que sempre venderam como a festa da união e das famílias e do bacalhau com couves, e guardam-se todos para esta época do ano, todos juntinhos, em festinhas muito bondosas como o Natal dos Hospitais, onde só falta aparecer o Sócrates a distribuir magalhães aos meninos diabéticos. Que me desculpem os católicos e o sr. Presidente mas não me apetece desejar feliz natal a ninguém. É como dizer a alguém olha filho, já que vives na merda porta-te como merdoso e vai gastar já o subsídio em prendinhas antes que o sub-prime e o Teixeira dos Santos te fodam o ordenado. Mas como sou bem educado não vou desejar nada disso. Por respeito ao menino Jesus, às palhinhas, ao burrinho, à vaquinha, à estrelinha e aos camelos dos reis magos. Deve existir alguma mensagem em tudo isto, mas é muita fruta para mim. Caralhos me fodam.