Ninguém se lembra quando a Micas começou a vomitar de cada vez que viajava de carro. Ao princípio ninguém ligou, era só enfiar-lhe um anti-vómito pela goela abaixo e a moça aguentava-se. Mas depois começou a chamar o gregório cada vez que andava de comboio, de avião, de barco, de bicicleta, de eléctrico, e até de elevador. Levámos a Micas ao médico que lhe receitou mais anti-vómitos e descansou o pessoal saindo-se com “isso não passa de uma ligeira indisposição”. O que é certo é que a nossa Micas à força de vomidrines andou uns tempos bem disposta até que um dia ao ver o primeiro ministro na tv sujou a carpete da sala de uma boa dose de vomitado verde. Julgando nós que tudo não passaria de uma ligeira indisposição não ligámos ao assunto, mas o que é certo é que a Micas passou a vomitar sempre que via além do primeiro ministro na tv, os ministros, os secretários de estados, os acessores, os motoristas, os líderes da oposição, e até o presidente, este brindado com um volumoso vomitado com as cores da bandeira nacional.
Vai daí passámos a forrar o chão, as paredes e os móveis lá de casa com manga de plástico para evitar o estrago e simplificar a limpeza. O material foi tanto que um administrador da Polux chegou a propor-nos sociedade. Tal como o dono da farmácia cá do bairro que ofereceu uma soma jeitosa se consentíssemos em colocar a foto da Micas na embalagem do anti-vómito.
Vai daí passámos a forrar o chão, as paredes e os móveis lá de casa com manga de plástico para evitar o estrago e simplificar a limpeza. O material foi tanto que um administrador da Polux chegou a propor-nos sociedade. Tal como o dono da farmácia cá do bairro que ofereceu uma soma jeitosa se consentíssemos em colocar a foto da Micas na embalagem do anti-vómito.
Ora acontece que as visitas constantes da pequena à farmácia permitiram alguma intimidade com o Ruizinho farmacêutico, sobrinho do patrão. Pois bem, o Ruizinho também tinha um problema grave: sofria de violentos ataques de diarreia quando andava de transportes e sempre que via o primeiro ministro na tv, os ministros, os secretários de estados, os acessores, os motoristas, os líderes da oposição, e até o presidente, brindado com uma boa dose de líquido fecal com as cores da bandeira nacional. O Ruizinho em tempos também tinha ido ao tal médico que diagnosticou “uma ligeira indisposição” e receitou doses industriais de ultra-levure e toneladas de fraldas descartáveis. Soubemos mais tarde que este mesmo médico se reformou novo com uma choruda conta bancária à custa de comissões em vomidrines, ultra-levures e fraldas dodot, e que vive actualmente nas Bahamas rodeado de beldades de calendário.
Esta predisposição para tão ligeiras indisposições acabou por fomentar uma certa aproximação entre a Micas e o Ruizinho, que se traduziu em visitas constantes aos respectivos domicílios. Ambos perderam a pouco e pouco a cor macilenta provocada pelos involuntários dejectos orais e anais, e (milagre!) ambos se curaram das suas maleitas. A boda foi regada a champanhe genuíno e até o presidente foi convidado onde com pompa e circunstância abrilhantou o casório discursando com a boca cheia de bolo-rei. Se melhor prova houvesse para a cura dos dois pombimhos ela estava bem à vista: nem um esgar de enjoo foi detectado.
Esta predisposição para tão ligeiras indisposições acabou por fomentar uma certa aproximação entre a Micas e o Ruizinho, que se traduziu em visitas constantes aos respectivos domicílios. Ambos perderam a pouco e pouco a cor macilenta provocada pelos involuntários dejectos orais e anais, e (milagre!) ambos se curaram das suas maleitas. A boda foi regada a champanhe genuíno e até o presidente foi convidado onde com pompa e circunstância abrilhantou o casório discursando com a boca cheia de bolo-rei. Se melhor prova houvesse para a cura dos dois pombimhos ela estava bem à vista: nem um esgar de enjoo foi detectado.
Só depois dos convidados saírem é que o Elias começou a espirrar. O Elias era agora membro da segurança presidencial além de lambe-botas a recibos verdes. Pois o homem soltava espirros uns atrás dos outros que o impediam de falar, comer ou beber. Quando perguntei o que se passava ele lá conseguiu articular entre meia dúzia de espirros que a culpa era da crise. Pois, o Elias ganhara alergia à crise. Era a crise dos combustíveis, do ensino, da saúde, do emprego, do trabalho, da justiça, dos bancos, da economia, das finanças, das pescas, da agricultura, enfim, um bonito rol de potenciais agentes de doença alérgica. Confesso que já andava bem farto de vómitos e diarreias para agora me surgir um sacana ranhoso a toda a hora. Achei que devia descansá-lo, e à falta do tal médico especialista, dei-lhe uma palmadinha amigável nas costas dizendo “deixa lá ó Elias, não há crise. É apenas uma ligeira indisposição.”
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