quinta-feira, janeiro 25, 2007

O Referendo do Aborto ou o Aborto do Referendo

Vou votar SIM. Mas poderia votar NÃO.
Mas cá por mim, directamente e pessoalmente, tanto faz. PORQUE EU NÃO CONSIGO PARIR.

Portanto não percebo todos os homens que aparecem por aí a dar opiniões muito sérias como se les alguma vez já tivessem pasado ou possam passar por um aborto. O máximo que conseguem fazer é acompanhar a grávida ao local do aborto.

Por isso digo que tanto me faz votar SIM como NÃO.

No entanto assusta-me a idiotia dos NÃOS em quererem fazer crer que a "não penalização" aborto nas condições definidas é o fim do mundo, que todas as mulheres vão abortar, etc. Mas que ABORTOS eles são.

Eu poderia votar NÃO só numa condição: penalizem o homem também. Ou o feto apareceu por obra e graça do Espirito Santo?
Condenem o futuro pai e futura mãe da mesma maneira mas tendo também em consideração as suas condições económicas, sociais e até médicas.
Será que nesta situação os homens se pronunciariam da mesma maneira?

Falam todos em assassínio mas ninguém fala em assassinio quando não são dadas condições para uma criança crescer segunda a "Carta dos Direitos da Criança". Ainda mais ridicula e hipócrita é a posição da Igreja - porque não defendem uma educação sexual de qualidade, porque não gastam o dinheiro (que de certeza estão a gastar nesta campanha) em apoio e aconselhamento aos casais e aos jovens.
PORQUE PROIBEM O PRESERVATIVO? HIPOCRITAS

Se o feto é um ser humano desde o momento inicial (ou seja quando o espermatezoide se junta ao ovulo) então:

>Também vou poder receber o subsidio infantil a partir dessa altura?
>Se o feto morrer posso pedir o subsidio de morte (para quem tem)?
>Tenho que lhe dar um nome, registá-lo e obter uma cédula?

Segundo dizem não existe o direito de interromper esta vida, mas não os vejo a lutar do mesmo modo contra a MORTE em guerras, a MORTE à fome, a MORTE por não termos dinheiro para pagar cuidados de saúde atempados e de qualidade - HIPÓCRITAS.

Concordo que as imagens em que andam aí na WEB são violentas mas também já li que são de fetos com idade superior ao que a lei prevê.

Quanto ao SIM, por experiência própria sei que o aborto afecta bastante a mulher, mas também já se sabe que existem mulheres que o utilizam de forma sistemática, quando existem outros meios que, à “anteriori” previnem a concepção e que saiem mais baratos que efectuar o aborto. Não deverão estas situações ser criminalizadas?

Prontos – já botei faladura e como vozes de burro não chegam ao céu, eu cá fico neste inferno.

domingo, janeiro 21, 2007

Bom, hoje é domingo e está um dia magnífico.
Não me apetece defecar por aqui. Vou defecar para outro lado

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Deram cabo de mim

Passei-me. E agora creio que foi de vez. Foi cravado o último prego no caixão da minha sanidade mental. A discussão em torno do aborto deu definitivamente cabo de mim. Tivesse eu nascido mulher e já teria abortado dez vezes seguidas face ao que tenho visto e ouvido sobre o assunto nos últimos tempos. Por isso, não se queixem desta profunda crise de mau gosto. Não estou em mim.
Se o NÃO ganhar, juro que nunca mais terei uma única relação sexual na minha vida, nunca mais farei um filho, e tentarei impedir por todos os meios que mais alguém os tenha. Nem que me suicide à bomba na maternidade Alfredo da Costa. Se o SNS fosse pagar os abortos caso o SIM vencesse, então este serviço não teria de pagar mais nada. Nem um parto, nem uma operação ao apêndice, nem um transplante de medula, nem uma lipoaspiração, nada, rien, niente. Sejamos coerentes. A saúde não se paga, beatifica-se. Quem tiver uma dor de dentes que recorra ao prior da freguesia, quem tiver SIDA que vá direitinho pró inferno, quem necessitar de um coração novo que vá a pé, de rastos ou de trampolim até Fátima, reze 200 ave-marias e 300 pai-nossos, beije a mão ao bispo. Quem sofrer as tentações da carne que opte pela vergasta do verdugo, que se autoflagele em público em plena procissão e à vista de todos incluindo o patriarca. Não há mal que a santíssima igreja católica-apostólica-romana não cure. E por último a solução final: castre-se o pecador/a à nascença, e recorra-se à emigração para ocupar os lugares vagos pela ausência de nascimentos. Não faltarão criancinhas para adoptar ou para alugar. Os defensores do NÃO assim o exigem. É a sua sobrevivência que está em causa.
Por outro lado, se o SIM ganhar, abrirei uma clínica, ou melhor uma rede de talhos disfarçados de clínicas em todas as capitais de distrito, onde os abortos até às dez semanas serão seleccionados, separados, retalhados, temperados e amassados até encherem quilómetros e quilómetros de cordões umbilicais e vendidos como chouriços de Arganil aos teóricos da defesa da vida. Não há-de haver aborto que me escape, todas as mulheres serão vigiadas e catalogadas. Os machões, os violadores, os tarados sexuais receberão subsídios para espalharem a sua semente pelo erário feminino. E seremos todos nós a pagar o festim, rapaziada! E é bem feito porque andam todos a mangar com a gente e a gente a ver! As Zézinhas, os Gentis, os Bagões, os Borges, os Jardins, os Mendes, os Sócrates, os Cavacos, os Rios, o Millenium BCP, o Espírito Santo, o Papa, o Marco Paulo!
Quando não existe discussão séria sobre um assunto encontra-se a solução mais fácil: o referendo. Assim o governo não se compromete, a oposição não se compromete, o povo não se compromete, ninguém fica comprometido. E o problema é uma vez mais atirado para trás das costas, para o limbo do esquecimento, para a clandestinidade.
Agarrem-me, vistam-me uma, não, duas camisas de forças, agrilhoem-me a um bloco de cimento, guardem-me na masmorra mais funda do Miguel Bombarda.
Conseguirem dar cabo de mim...

terça-feira, janeiro 02, 2007

Feliz Ano Novo??

Esta estória de passagens de ano, de festarolas, espumante, bebedeiras, fogo de artifício é tudo uma grande treta. Festeja-se o final de um ano com a esperança saloia de que o novo é que vai ser, é que vai trazer coisas boas, o euromilhões e coisas assim. E depois é a merda do costume: o custo de vida continua aumentar, o salário a reduzir, as empresas a fechar, a saúde a piorar, o ensino a definhar, o FC Porto a ganhar. E o euromilhões sem sair. Cá para mim o fim de ano é uma invenção destinada aos papalvos que ainda acreditam em bolsos cheios, jeeps topo de gama e férias no Brasil. E ainda não perceberam que ao longo dos anos os bolsos estão mais vazios, o carrinho já tem 180000 Km, e as férias passaram do Algarve para a Costa da Caparica. Há que aliciar as massas com falsas esperanças de melhoria sempre que o ano começa, há que controlá-los na fase do ano em que estão mais frágeis, em que já gastaram os subsídios de Natal em merdas que não valem a ponto de um corno, e que bem poderiam usar para, por exemplo, adquirir um kit de sócio do Benfica ou dar entrada para aquele televisor LCD que faria uma grande inveja ao vizinho. É também por esta razão que os Papas e quejandos aproveitam esta época para discursos metódicamente redigidos para puxar ao sentimento, como a mensagem do Bentinho (o XVI) a confundir o aborto e a eutanásia com o terrorismo, e a do Cavaquinho a ameaçar pôr as coisas na linha se o país não crescer em 2007. Tudo isto o pagode chupa, dissolve, engole e regurgita em doses maciças. Somos como aqueles doentes que são obrigados a assistir ao Natal dos Hospitais em directo e ao vivo, convencidos que as cantigas do Marco Paulo e sus muchachos lhes vai aliviar os males e as dores, mas que saiem de lá com o agravamento das mazelas e a precisarem de tratamento psiquiátrico. É que o mediatismo institucional aproveita precisamente estas alturas para reforçar o seu controlo sobre a escumalha, que é a essência da sua própria sobrevivência. Sem o maralhal embasbacado e anestesiado Papas, Cavacos, Sócrates, Bushes, rabis e aiatolas não passariam de peidos velhos e atrofiados.
Tenham esperança, não desesperem, isto ainda vai ser um grande país e um belo planeta para se viver. Não sei quando, mas isso agora não interessa nada.
Foda-se, lá se foi mais uma vez o euromilhões!...