Esta estória de passagens de ano, de festarolas, espumante, bebedeiras, fogo de artifício é tudo uma grande treta. Festeja-se o final de um ano com a esperança saloia de que o novo é que vai ser, é que vai trazer coisas boas, o euromilhões e coisas assim. E depois é a merda do costume: o custo de vida continua aumentar, o salário a reduzir, as empresas a fechar, a saúde a piorar, o ensino a definhar, o FC Porto a ganhar. E o euromilhões sem sair. Cá para mim o fim de ano é uma invenção destinada aos papalvos que ainda acreditam em bolsos cheios, jeeps topo de gama e férias no Brasil. E ainda não perceberam que ao longo dos anos os bolsos estão mais vazios, o carrinho já tem 180000 Km, e as férias passaram do Algarve para a Costa da Caparica. Há que aliciar as massas com falsas esperanças de melhoria sempre que o ano começa, há que controlá-los na fase do ano em que estão mais frágeis, em que já gastaram os subsídios de Natal em merdas que não valem a ponto de um corno, e que bem poderiam usar para, por exemplo, adquirir um kit de sócio do Benfica ou dar entrada para aquele televisor LCD que faria uma grande inveja ao vizinho. É também por esta razão que os Papas e quejandos aproveitam esta época para discursos metódicamente redigidos para puxar ao sentimento, como a mensagem do Bentinho (o XVI) a confundir o aborto e a eutanásia com o terrorismo, e a do Cavaquinho a ameaçar pôr as coisas na linha se o país não crescer em 2007. Tudo isto o pagode chupa, dissolve, engole e regurgita em doses maciças. Somos como aqueles doentes que são obrigados a assistir ao Natal dos Hospitais em directo e ao vivo, convencidos que as cantigas do Marco Paulo e sus muchachos lhes vai aliviar os males e as dores, mas que saiem de lá com o agravamento das mazelas e a precisarem de tratamento psiquiátrico. É que o mediatismo institucional aproveita precisamente estas alturas para reforçar o seu controlo sobre a escumalha, que é a essência da sua própria sobrevivência. Sem o maralhal embasbacado e anestesiado Papas, Cavacos, Sócrates, Bushes, rabis e aiatolas não passariam de peidos velhos e atrofiados.
Tenham esperança, não desesperem, isto ainda vai ser um grande país e um belo planeta para se viver. Não sei quando, mas isso agora não interessa nada.
Foda-se, lá se foi mais uma vez o euromilhões!...
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