domingo, janeiro 27, 2008

O Canto do Cisne da CM

Baseando-nos na teoria das classes, poderá dizer-se que a classe média (CM) é aquela que é composta pelo conjunto de indivíduos de que qualquer estado vive através dos impostos cobrados. Esta denominação, transportada para a realidade portuguesa, passa a englobar os Zé-Pagantes e toma o nome de classe da merda (CM), onde os irremediavelmente pobres não pagam grande parte dos tais impostos por não terem com quê, e os escandalosamente ricos também não os pagam por saberem muito bem como fugir-lhes.
Sabemos pela ciência política, em oposição à ciência da politiquice, que a gestão dos humores da CM é que tem vindo a moldar a geografia política da Europa em particular, e do mundo, no geral. Igualmente sabemos que nos bastidores, quem mexe os cordelinhos deste mundo com base na sapiência e matreirice, de há muito entendeu perfeitamente que se for capaz de lhe determinar esses humores, os tem a vir comer-lhe à mão.
Por demais evidente, o sonho de qualquer pateta treinado para Napoleão é ter essa CM bem domesticada, tendo esse povinho a seus pés.
As receitas são conhecidas: cultura pouca; dinheiro e tempo para devaneios, menos ainda; impostos, tantos; medos, muitos. Quanto ao dinheiro, claro que estamos a falar do metal sonante, o pilim à portuguesa, que o dinheirito a crédito, quanto maior a fartura, maior a escravidão, sempre no auge da proporção.
Aquilo a que assistimos por esse mundo fora é às mais desvairadas tentativas de abafar ou mesmo anular uma classe média que foi construindo a sua humanidade num conjunto de preceitos éticos resumidamente consubstanciados na Declaração Universal dos Direitos do Homem, e no caso lusitano, com uma especial trampolineira traquinice.
Nos tempos modernos, os aprendizes de feiticeiro trocaram a vassoura pelo dólar e o euro, conduzindo a CM à instabilidade, ao salve-se quem puder, à busca desenfreada de padrinhos, mais ou menos de índole mafiosa, e protectores, mais ou menos opus dei ou dedicados a outras diversas seitas.
Também já muitos o afirmaram com muito mais propriedade intelectual e científica do que eu, que o esmagamento das classes intermédias obrigam ao engrossar das fileiras daqueles que já nada têm a perder, o que fará, mais tarde ou mais cedo, com que as elites da treta e do sacrossanto lucro possam vir a dar com os burrinhos na água, pois que a lei da selva então será como o sol, quando nasce é para todos.
O que me chateia mesmo é que, no final desta cegada, esse fenómeno social não seja nada porreiro e todos comam pela medida grande, entre os quais aqueles que até, não sendo bruxos, admitem esta clarividência. Entretanto, cantando e rindo, lá vamos nós levados, levados sim.
Ele há coisas do caralho, não há?

Nota: baseado numa crónica de Jorge Castro, 26 de Janeiro de 2008, revista do Público.

1 comentário:

  1. Há um recado para um dos membros da tripulação no http://antropocoiso.blogspot.com/2008/03/gente-v-se-na-matola.html

    Os outros também podem vir.

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