quarta-feira, janeiro 30, 2008

Dois tigres à solta



Nesta selva pejada de animais raros admito que já cá faltavam dois tigres. Um casal de preferência. Porque é preciso procriar para atirar com mais crias para o circo, mais pagantes dos desvarios dos intratáveis tratadores, mais contribuintes dos desvelos dos autoritários domadores. Camelos já existem, e muitos, apesar do deserto da margem sul estar de momento aliviado do desértico impropério do línico ministro. Mas a areia continua, e muita, a ser soprada para os olhos do rebanho, que faz fila à espera da sua vez de entrar para o curral com direito a sandes de atum e reforma aos 68 anos. Este estado de coisas, que se arrasta comatoso há três décadas, é o fruto da alternância das bestas na gamela da ração. A que cai no chão é logo devorada pela animalesca esfaimada, sedenta de mais restos, mas incapaz de abanar convenientemente o caldeirão. Antes prefere ajudar a besta que está de fora a morder as canelas à outra que enche o bandulho, até esta fugir a lamber as feridas e deixar o lugar vago. Animais assim só servem mesmo para o matadouro. E depois queixam-se.

Nota: Afinal já apanharam os tigres. O que prova que estes perigosos animais quando em cativeiro prolongado são apenas fofos gatinhos.

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