É um drama ser um país periférico! Durante quase 50 anos a bosta salazarista transformou este país no melhor dos paraísos, fechado ao mundo, inventando a anedota do "jardim à beira mar plantado", e agora, 30 anos depois da já esquecida revolução dos cravos, continuamos a querer viver no melhor dos paraísos, no melhor e mais bonito país do mundo e arredores, uma reserva de bimbos e pato-bravos cercados de oceano e castelhanos de onde, segundo se diz, não vem "nem bom vento nem bom casamento".
Vem isto a propósito daquela aldeia nos arredores de Felgueiras cujos duzentos e tal habitantes se associaram para jogar no euromilhões, facto não criticável não fora o destino a dar ao dinheirinho do prémio, caso a sorte lhes batesse à porta. Nada mais nada menos que transformar a dita aldeia em quê? Pasme-se: num CONDOMÍNIO FECHADO!!!
Decerto que estes pacatos aldeões estão convencidos que a sua pacata aldeia é um perfeito paraíso, tão perfeito de deve ser fechado ao mundo e arredores, para não ser conspurcado pela barbárie promotora da insegurança, que não lhes permite ver a telenovela a tempo e horas, o folhetim da Fátima tão querida que se abotoou com alguns milhões do alheio e se pirou para os brasis em gozo de férias prolongadas, ou, quem sabe, para prevenir qualquer arrastão de gambusinos em excursão de fim de semana.
Será que esta atitude é um sintoma do nosso atraso cultural? Depois de muitos cabelos arrancados à força de tentar perceber estes aldeões, cheguei à triste conclusão que também o excesso de kultura que abunda nos doutores e engenheiros que têm desgovernado este quintal e as espectaculares empresas por onde foram vegetando, cobrando chorudos ordenados e invejáveis reformas, também pretendem viver em condomínios fechados, isolados dos problemas da plebe e do mundo cão tão longe da sua porta.
Tirando alguns muito poucos cidadãos que têm o privilégio de pensar pela sua própria cabeça, e nas suas visitas à estranja verificarem as abissais diferenças que nos separam dos comparsas europeus, todos os outros que amealham uns cobres para vegetarem nas praias de Cancun, Punta Cana ou Phuket, protegidos da barbárie autóctone por seguranças armados de metralhadora, fazem por lá o mesmo que fariam por cá se passassem férias na Caparica ou no esterco de Albufeira, embora com água mais quentinha e transparente. E depois voltam muito bronzeados, muito tropicais e muito alarves, e dizem que ricas férias, mas já tinham muitas saudades do querido Portugal, ainda que o Portugal para eles não passe da quinta no Alentejo, da marina de Vilamoura, ou no condomínio Casas da Villa, Morro do Infante ou da puta que os pariu.
Não estivesse a lusa terra situada na ponta do esfíncter da Europa, e estes índigenas já teriam aprendido alguma coisa com franceses, suíços, holandeses, alemães, dinamarqueses ou qualquer outro povo bárbaro, e porque não, com os nuestros hermanos.
Se a canalha que vive à conta do canudo não passa de uma massa amorfa em permanente adoração do próprio umbigo, o que é que se pode esperar dos duzentos e tal habitantes da aldeia nos arredores de Felgueiras que, na sua maioria, só vê Braga por um canudo? Uma revolução cultural?
O país que se acha o melhor do mundo por possuir mais telemóveis que habitantes, só merece viver isolado num condomínio fechado, não para se proteger, mas para proteger os que estão de fora de algum possível contágio. E nos raros momentos de visitas guiadas permitir o bombardeamento dos condóminos por toda a espécie de fruta podre.
domingo, julho 31, 2005
Os Condóminos
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