O Intelectual da Tripulação esvazia a 3ª garrafa de bagaço enquanto lê pela 346ª vez o Compêndio de Filosofia do 6º ano antigo. Realmente só etilizado se consegue ler tamanho bacamarte. O Tóca-o-Badalo toca mesmo o badalo e o Intelectual fecha o compêndio, marcando a última página de leitura com o sabre ferrugento do Comandante. Como é sabido, o Comandante continua em parte incerta, e esta incerteza deixa a Tripulação à beira do desperdício. O Pubic Relations recorta a foto do meio da “Play-Boy” de 1969, o Cabo de Sinais alivia a tensão contando as barbatanas de tubarão que cercam o navio, o Decano tenta convencer o 1º Cabo-de-serviço-à-pipa que o David Lynch é um realizador “fabuloso”, o Timoneiro acordou mal disposto e o 2º (e único) Remador ainda está de ressaca. O único que se safa é o Protocolo, que finge dirigir o barco na ausência do Comandante. Desde Singapura que não sopra um peido de vento, o mar umas vezes parece estar chão, noutras parece encrespado mas é só a fingir. A gaivota da proa alisa as penas com o bico enquanto o Assador-mor (que até este momento ninguém sabia onde estava e o que fazia) a mira com olhar guloso e começa a preparar o assador. De repente alguém grita “Terràvista!” e todos olham para todos à procura do autor. Como ninguém se acusa os olhares sobem para o cesto da gávea e alguém (creio que o Timoneiro) pergunta “Quem falta? Se não falta ninguém ou é o Comandante ou temos um clandestino a bordo!”. De imediato o plano de emergência é accionado com rigor. A Protecção Civil da Tripulação composta pelo Pubic Relations, pelo Intelectual, pelo Protocolo e pelo Toca-o-Badalo forma no convés e o Toca-o-Badalo toca mesmo o badalo com estrondo.
A comissão liquidatária da Tripulação composta pelo Timoneiro, pelo Cabo de Sinais e pelo 2º (e único) Remador convoca uma reunião de emergência para dali a três dias com o fim de resolver a seguinte questão: confirma-se primeiro que há mesmo terra nas proximidades ou vamos tentar descobrir quem se esconde no cesto da gávea?
A Protecção Civil passa-se dos carretos e carrega à bastonada sobre a comissão liquidatária para acelerar os actos. Depois da refrega, dos olhos negros, dos braços partidos e dos curativos à base do bagaço do Intelectual, a reunião fica decidida para daí a dois dias. O 1º Cabo de Serviço à Pipa ainda tenta protestar mas é de imediato acorrentado e lançado no porão. Para comemorar a Tripulação resolve marcar um jantar em conjunto, já com os adiamentos pré-definidos nos dias 3, 14, e 23. Em definitivo o jantar ficará para depois dessas datas.
O Assador-mor abre mais um garrafão de tinto e os brindes sucedem-se.
Entretanto lá em cima no cesto da gávea, a Gaivota Decana exita entre dar-se ao conhecimento ou esvoaçar dali para fora. Pensando melhor, vai mas é continuar a ler “O Sermão de S. António aos Peixes”.
Ainda há muita terra para desbravar.
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