segunda-feira, fevereiro 11, 2008

A Desaparecida




Sempre pensei que Portugal merecia ter os seus heróis. Não aqueles da dita História, tipo Farinha Amparo, como Nuno Álvares Pereira ou Vasco da Gama. Mas um herói a sério, que enfrente o perigo de olhos nos olhos e com um sorriso de desdém, que ponha a honra pessoal acima de qualquer garina que se atravesse no caminho, que seja impoluto e rápido a sacar do verbo fácil, com resposta pronta e certezas várias, enquanto prega dois tiros em cheio no inimigo. Alguém como John Wayne, membro da Legião Americana enquanto vivo, símbolo maior de uma certa época de afirmação americana no mundo, actor popular e fetiche de muitos westerns.
Mas quem mais se aproxima de John Wayne é o ex-judite Moita Flores. É afirmativo, sabe quem são os culpados, está cheio de certezas, conhece bem os inimigos. Nunca pertenceu à Legião Americana mas foi eleito nas listas do PSD, o que bem vistas as coisas, é muito mais in que ser legionário. O paralelo com o actor americano é evidente: em “A Desaparecida” (The Searchers), Wayne vasculha o Oeste americano à procura da sobrinha raptada pelos comanches. Flores opina em frente às câmaras de TV as suas certezas sobre o desaparecimento de Madeleine Mcann. Uma criança desaparecida entrepõe-se entre ambos. Coincidências? Wayne massacrava alguns índios em muitos filme onde entrou. Flores massacrou-nos com as suas opiniões de pseudo-especialista e Sherlock Holmes de vão de escada.
No final a porta fecha-se sobre o cow-boy solitário que resgata a sobrinha. Alguém vai bater com a porta em cheio no Moita Flores quando o processo Mcann for arquivado.
Apenas uma diferença: um é herói de pacotilha, outro era apenas a fingir mas gostávamos muito.


A Desaparecida (The Searchers) – 1956 – de John Ford, com John Wayne, Jeffrey Hunter e Vera Miles

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