quarta-feira, abril 23, 2008

Prontos para a tosquia



Qualquer rebanho tem tendência em seguir o bode mais velho, o que tem os cornos mais duros. Isto quando o cão de guarda não ferra o dente em algum quadril para se fazer respeitar. O respeitinho tem de facto uma hierarquia, uma linha recta de autoridade.
No rebanho, o cão ladra e morde para impor um determinado sentido, enquanto o bode discute à marrada o direito à supremacia sobre os outros machos pelo domínio das fêmeas. De facto, quem manda é o cão, que tem mais a ver com matilhas do que com rebanhos.
Quando o rebanho se tresmalha, cada macho tende a formar o seu próprio grupo pastoril seduzindo os outros, movendo influências, apelando às élites. Por vezes o bode velho remete-se a um silêncio táctico, deixa os outros avançar e tomar a dianteira, deixa-os levar o rebanho até à beira do precipício. Quando o leite azeda, o bode velho chega-se à frente empurrado pelos outros bodes, pois sabem que mais cedo ou mais tarde a sua vez há-de chegar.
Quanto ao pasto, terá de servir apenas para os mais chegados. Os outros, os cordeirinhos, servirão apenas para empurrar o bode velho até ao comando do rebanho, e depois serão descartados implacávelmente. É que há sempre um lobo mau à espreita na floresta que necessita de ser alimentado. Às vezes veste uma pele de cordeiro, outras confunde-se com um cão de guarda.
Por estas e por outras é que já se confundem rebanhos com varas de porcos cor-de-rosa.

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