sexta-feira, agosto 29, 2003

DIZ-ME COMO LIMPAS O CU, DIR-TE-EI QUEM ES

O simples acto de limpeza do anús (para não ferir susceptibilidades) após acto de expulsão de fezes, pode indiciar características da personalidade do dono do dito. Se bem que o que se segue não tenha qualquer rigor científico, foi fruto da observação demorada, atenta e perspicaz dos repórteres da Tripulação Maravilha, uma vez mais arriscando a vida em prol do conhecimento e da cultura nacionais.
Convém informar que, devido às difíceis e óbvias condições de observação do fenómeno, o repórter principal está acampado numa famosa perfumaria de um conhecido Centro Comercial onde passa os dias a desintoxicar as mucosas nasais com os Gautier´s, Calvin Klein´s e quejandos, enquanto o repórter de apoio está a ser submetido a uma lobotomia para eliminar o sentido do olfacto.

Começamos pelo acto simples de corte do papel higiénico. Houve casos de ausência deste item, pelo que o desespero, a surpresa, ou as pragas, bem como o desenrasca usando o dedo, a maçaneta da porta, o lenço de assoar ou as próprias cuecas, não entram neste estudo. Ficará para outra ocasião.

É sabido a dificuldade geral em cortar o papel higiénico pelo picotado. Penso que o inventor deste elemento (o picotado) não contava com isso. Mas há quem disponha da habilidade necessária para o fazer. Estão nesta categoria alguns senhorios devido à prática constante no corte dos recibos, donas de casa verdadeiras fadas do lar, para quem a roupinha bem passada a ferro, a calcinha bem vincada e o programa do Manuel Luís Goucha a tempo e horas são a única razão de viver, e alguns parvos com a paranóia de fazer tudo certinho e direitinho, fundamentalistas da boa educação e que vão à missa todos os dias.

Há aqueles que desenrolam quatro metros de papel, e que o dobram até formar uma espécie de livro espesso com receio que o papel se rompa e sujem os dedinhos da mão com a sua própria merda. Estes são considerados hipócritas, egoístas, amigos de lixar o parceiro. Estão-se nas tintas para o canalizador que vier desentupir a sanita e mergulhar as mãos na merda alheia. Os lambe-botas e alguns secretários de estado representam esta categoria.

Existem depois os que amarfanham o papel até fazer uma bola, lambuzando-a de merda a toda a volta. São construtores civis, ex-ministros com cargos de administradores, que destroem e contaminam tudo o que vier à frente, sem apelo nem agravo. Às vezes sujam os dedos de merda e fazem grafittis nas paredes do WC, com o mesmo floreado com que recebem ou emitem os cheques por debaixo da mesa.

Seguem-se os que enfiam o dedo médio envolto em papel higiénico pelo cú acima. Desculpam-se com o argumento de limpeza em profundidade mas na verdade gostam de sentir o comboio a entrar pelo túnel. Mas nem todos são assim. Alguns gostam de coçar as hemorróidas, caso o papel seja resistente, tipo lixa. Representam esta categoria alguns militares de carreira frustrados, seguranças de discoteca e meninas muito púdicas que gostariam de pedir ao namorado uma de marcha atrás mas que têm vergonha.

Mas há quem goste de admirar o papel sujo de merda após cada limpeza. São personagens egocêntricos, vaidosos, super convencidos. Outros há que descobrem arte no desenho da sua própria merda. Para estes, qualquer merda é uma obra de arte. Cantores pimba, cineastas de vanguarda, e alguns presidentes de câmara olham a estampa da sua merda inchados de orgulho quase doentio.

Fora destas categorias, mas mesmo assim uma observação interessante, é ver o modo como a mão que segura o papel desliza pela abertura anal. Se de cima para baixo se de baixo para cima. Ninguém se limpou deslocando a mão da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda, o que talvez prove a existência de alguma maturidade nesta matéria. Se a limpeza é feita de cima para baixo, a merda tem tendência a escorrer directamente pela força da gravidade para a sanita, o que pode indiciar uma mente prática. Se for de baixo para cima, a merda tem tendência a acumular na parte superior do papel, e a limpeza não será tão eficaz de ínicio, o que implica mais gasto de papel higiénico, mais pasta de papel, mais árvores a abater, mais floresta para queimar.
Quem age assim só pode ser um perfeito gastador, menino-família, coleccionador de ferraris e praticante de corridas de motas de água a cinco metros da praia, depois de subornar o salva-vidas com um convite para uma festa na sua vivenda do Algarve com as gajas do jet-set.

Por último, há os que nunca limpam o cú, mesmo que toneladas de rolos de papel higiénico se desenrolem à frente do seu nariz. Ou são muito distraídos ou andam preocupados com o défice nas contas públicas, guerra no Iraque, ou jogos do Benfica. São pessoas muito susceptíveis que não merecem qualquer tipo de consideração nem devem ser levadas a sério. São personagens tão diversos que cabem em qualquer tribunal, ministério, banco, ou empresas de consultadoria. Alguns também escrevem para os jornais e mudam de opinião conforme a cor de quem está no poder.

Foi ainda possível observar que alguns potenciais cagantes (este adjectivo foi agora inventado) por muito que o tentassem não conseguiam libertar-se das fezes. Para esses e para o seu sofrimento deixo aqui uma palavra de solidariedade e compreensão, e que o melhor que têm a fazer é cagarem-se para isso.

REPÓRTER ZÉ SANITA

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