Sempre me fez confusão que numa auto-estrada com 3 faixas existam maduros que se alapam na faixa do meio a 100 km/h e que se deixam ir na boa e nas tintas para os que não têm qualquer alternativa senão em ultrapassá-los pela direita, quando não o podem fazer pela esquerda como deve ser e em segurança. E se por acaso se lhes chama a atenção para o facto, ainda esbraçejam e incham de razão, e continuam na sua faixa mediana, na sua velocidade mediana, a servir de rolha e tampão à melhor fluência do tráfego.
Mas vendo bem até está certo. Estamos em Portugal, não estamos? A mediocridade é a nota máxima do establishment luso-pacóvio, espalha-se pelos interstícios labirínticos da administração a todos os níveis, produz sementes nos partidos políticos, cresce desalmadamente sem rega nem controle de temperatura. É uma praga incontrolável, uma doença sem vacina, um furúnculo auto-sustentável. Ser medíocre é conduzir sempre pela faixa do meio, é ficar nas meias-tintas, no meio da tabela, a meio da praia, é ter medo de molhar o pézinho na água fria do mar e preferir ficar lá longe, no areal, à sombra do chapéu de sol a ler a Bola ou a Nova Gente. Ainda se lessem Pessoa, Stendhal, Garcia Marquez, Cardoso Pires, enfim, até lhes desculpava não subirem ao alto da falésia e atirarem-se de cabeça cá para baixo. Sempre podiam enterrar a cabeçinha na areia por uma boa causa.
Com tantos medíocres a debitarem nos jornais, nas rádios e nas TV´s é natural que o vírus da mediocridade se espalhe consumindo toneladas e toneladas de neurónios, é assim uma espécie de super-aviário com gripe das aves galopante, que em vez de matar zombivifica, ou seja, transforma o doente num zombie ou morto-vivo, pronto a contaminar ainda mais com uma simples mordedura. Mordeduras que provocam patologias mutantes e infecções prolongadas que tanto podem ter o nome de "branqueamento do regime salazarista" como de "regresso de Paulo Portas à política" ou ainda "Alberto João Jardim demite-se e quer eleições na Madeira". E o grande bando dos media-medíocres (media, estão a ver?) logo se presta a comentar, dissecar, raspar, analisar, deglutir e regurgitar estes fenómenos patológicos contribuindo ainda mais para a sua expansão e sobrevivência. É uma peste negra sem vítimas mortais, porque ela própria também assina pelo meio, pela paz podre, pela morte sem morte aparente, que também ela apanhou com o vírus pela proa e já nem matar consegue neste cantinho a meio da praia de cú pró ar plantado. Já tem a foice com ferrugem, a filha da puta.
Bem podem empertigar-se os que tentam dar a volta a este gravíssimo problema de saúde pública. Bem pode o ministro fechar mais urgências a eito que a mediocridade geral continuará impávida e serena a viajar pela faixa do meio, que na faixa da esquerda os aceleras de pacotilha se vão encostando uns aos outros a ver quem consegue passar à frente e ser mais medíocre que os que ficam atrás, que a faixa mais à direita se transforme num corredor vazio e convidativo, num tapete vermelho para o podium da competição desenfreada e da mediocridade incontida ou, quiçá, um caminho mais seguro para marrar com os cornos nas traseiras de um camião TIR.
O que, diga-se de passagem, até seria um mal menor.
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