Desde há uns tempos que ando desgostoso com este país, ou lá que isto é.
Nunca me considerei um prodígio lá porque comecei a perceber que isto é assim desde que levei as primeiras reguadas na primária. A entender que os aldrabões têm privilégios que todos os outros não têm. A compreender que ser espertalhão é que dá futuro. A constatar que a inteligência posta ao serviço dos que nos rodeiam só serve para acrescentar a palavra papalvo ao nome de batismo. A verificar que a matemática define claramente a regra da proporcionalidade aplicada à abestuntice, ou seja, quanto mais individualista e interesseiro um individuo o seja, mais sobe na vida deste país, ou lá o que isto é. A assumir que os ensinamentos paternais da honestidade e respeitabilidade pelos sentimentos puros afinal foram fruto de um grande equívoco que se revelaram desastrosos na vida desta sociedade.
Mas o mais grave é que chegado a este ponto, ao hoje deste país, ou lá o que isto é, já não me resta qualquer esperança de ver o parceiro do lado em atitude crítica actuante face ao outro parceiro do seu lado que permanentemente, e sem qualquer escrúpulo ou laivo de arrependimento, o amachuca, o engole, o enraba, o adraba ou o mata, mesmo que não fisicamente, pelo menos a nível do seu ser como pessoa.
É por isso que após hibernação, dei comigo a ouvir nas televisões e rádios que o país, ou lá o que isto é, estaria a arder.
Afinal não é bem assim. Aquela ténue esperança que isto estivesse para acabar por um fio de lume, afinal não passa de uma treta, uma grande treta. Basta subir ao Cristo Rei e ver que ainda está tudo para ser ardido.
Ora bolas!
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