segunda-feira, abril 04, 2005

Contradições? Bah!!

O post anterior levanta legítimamente algumas questões que, na minha modesta opinião importa reter, esclarecer e discordar.
Continuo a assumir que os EUA são de facto um país de grandes contradições, pois estamos a falar num império que estendeu pelo mundo inteiro o seu modo de vida, que assenta no dinheiro, no poder do dinheiro, no controle do dinheiro, a todo e qualquer custo. Muito antes desta globalização já existia o american way of life, com as calças levi´s, os macdonalds, os cigarros marlboro, a coca-cola, as mamas da Pamela Anderson e os músculos do Schwarzemerda. Por muito que nos custe continuamos a viver segundo os padrões de consumo em que assentam as teorias americanas do uso, posse e crescimento do dinheiro. E raramente pomos em causa essa forma de vida, pois até nos dá um certo jeito... A penetração global americana tem aqui uma soberba auto-estrada.
É evidente que aquele país antes de existir foi um território dividido entre colonialistas europeus (ingleses, franceses, espanhóis), que levaram até lá a sua filosofia de conquista que assentava no extermínio dos índigenas para melhor sugarem as suas riquezas. Esta prática não foi exclusiva no continente americano, também foi posta em prática na Ásia e em África, aqui com o privilégio de sermos o primeiro país do mundo a exportar escravos negros para a América. A nossa contribuição também foi importante...
A América nasceu da merda europeia, e a merda que de lá sai para o mundo inteiro é descendente directa dessa merda. Os nossos genes estão lá todos.
Não existe comparação possível entre a forma de fazer cinema de Eastwood e a de Michael Moore, nem é isso que está em causa. Moore serve-se do cinema para mostrar a América que se esconde por detrás das suas fachadas, Eastwood faz, apenas, bons filmes. Alguns até muito bons.
Moore simpatiza com o Partido Democrata, Eastwood milita no Partido Republicano e faz um filme cujo conteúdo nada tem a ver com as suas preferências políticas, antes pelo contrário. E isto é, na minha modesta opinião, uma inegável contradição, tal como seria contraditório Michael Moore vir a público atacar a eutanásia ou o aborto, ou defender as virtudes da família Bush.
A política americana assenta, de facto, no embuste, na falsificação e na mentira. Qualquer coisa boa que de lá venha deveria ter o benefício da dúvida, ou seja, isto é muito bom, mas... não estarei a ser manipulado? E estarei a ser manipulado por Woody Allen? E por Michael Moore? Será que tudo isto faz parte de um plano de subjugação das descrentes mentalidades europeias à globalização ideológica americana? O país que invade o Iraque, que cerca Cuba, que massacra no Vietname, só pode produzir energúmenos como Bush, aventesmas como Cheney, alimárias como Michael Jackson, raspas de vómito como Charlton Heston? Não pode parir essas coisas sublimes que dão pelo nome de jazz e rythm & blues, escritores como Truman Capote ou Chandler, políticos como Luther King, actores como Pacino ou De Niro, cineastas como Ford, Copolla, Allen, e (foda-se) Michael Moore e Clint Eastwood?
O facto de eu gostar de um bom filme americano faz com que me estejam a pôr uma venda à frente dos olhos para não ver a realidade que se esconde nesse meu gostar? Estarei, como espectador, a ser cúmplice dos assassinatos cometidos pelos americanos em nome do poder do dinheiro?
Ou andamos já todos paranóicos e cagados de medo como a maioria dos americanos ou os peregrinos de Fátima e Vaticano?
Prometo voltar a este assunto aqui mesmo, isto dá pano para mangas.

PS: Charlton Heston, que eu saiba, nunca foi actor ou cowboy digno desse nome, mas sim um execrável Moisés nos 10 Mandamentos e em mais não sei quantos filmes biblicos insuportáveis. Salvam-se alguns (poucos) filmes de ficção científica onde fingiu ser actor.
Pelo contrário (estas contradições são fodidas!) John Wayne foi um excelente actor de filmes de cowboys (e não só), alguns até entre os melhores de sempre, e apesar de ter pertencido à fascista Legião Americana, recordo com saudade alguns dos seus filmes que via quando era puto.
Sobre o medo americano recomendo o excelente filme de M. Night Shalyaman A Vila, que já aqui falei num post anterior.
Deixo aqui três filmes de Clint Eastwood dos quais gostei e nem por isso me senti tentado a mudar a minha forma de pensar: Bird (sobre a vida de Charlie Parker), Imperdoável e Um Mundo Perfeito.
Para esclarecimento, o canal da TV Cabo AXN passa às 2ªs, 6ªs, sábados e domingos o programa A América de Michael Moore, produzido, realizado e apresentado pelo próprio. Penso que o programa passa depois da meia-noite com repetição pelas 16:00h.
A não perder, até pela forma como Moore se serve da linguagem televisiva do espectáculo para denunciar e criticar. Contradições? Bah!

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