quarta-feira, fevereiro 02, 2005

O Boato

O esquema já estava montado. O Elias fez valer os seus conhecimentos no Brasil e a notícia saiu, como se esperava, no tal jornaleco de Paraguiguagaçu, com direito a site na net e tudo. Por cá, e tal como estava combinado, o pasquim "O Homicídio" copiou para a 1ª página a grande bronca: "O filósofo é picolho!" Evitou-se assim um processo por difamação ao dito jornal, que até aumentou as vendas.
Mas o Elias avisou-me que isto não chegava, pois a internet ainda não tinha chegado a Vale de Palhaços e que pouca gente iria saber que o filósofo afinal gostava da fruta com bicho. Vai daí, e a conselho do Elias, lancei como tema da campanha o referendo sobre casamento dos mariconços, e até o Arnaldo deu uma ajudinha naquela célebre entrevista em que respondeu a uma pergunta sobre economia da seguinte maneira:
- Perguntem antes ao filósofo o que ele pensa sobre o casamento entre fufas e paneleiros.
E para mostrar que não me misturo com essa gente resolvi organizar, a conselho do Elias, uma mega-jantar com cerca de mil gajas minhas apoiantes, creio até que algumas já conhecia de Entre-Lençóis ou do Boca na Botija, e vai daí as garinas desataram todas a elogiar cá o artista, viva o garanhão de Vale de Palhaços, longa vida ao Mete-e-Tira da Lapa, e eu a ver como é que o filósofo iria sair desta, como é que ele iria tapar o buraco em que eu o estava a meter. E o meu entusiasmo foi de tal ordem que, enebriado pelo cheiro tentador de tanta fêmea e a presença das câmaras da TV, não resisti a lançar mais uma farpa à pessoa do filósofo, esta sim para o arrumar de vez:
- O meu adversário organizaria um mega-jantar com mil marinheiros, que depois o levariam ao colo...
Foi o delírio. Isto é, foi até o Elias se aproximar de mim a arrepelar os cabelos e a gritar:
- Conho de merda! Deitaste tudo a perder! Agora vão estar todos contra nós!
Fiquei surpreendido. Então a estratégia não era esta para fugir aos debates sobre politica ou lá o que é isso? Mas o Elias já não me ouvia. Batia repetidamente com a cabeça na ombreira da porta e babava-se abundantemente.
Mas o gajo tinha razão! Ouve um tal estardalhaço na opinião pública que eu tive a necessidade de prestar algumas esclarecimentos. Assim, pus o meu ar mais vitimizado de sempre e neguei tudo, que tudo não passava de um equívoco, o filósofo é que andava a espalhar o boato de ser picolho para no fim aparecer como vítima de uma cabala, e que a vida privada de cada um não era para aqui chamada, pois eu até tinha fama de putanheiro, tanta como o filósofo tinha de paneleiro, e ninguém tinha nada a ver com isso, e que o lixado no meio de tudo isto era eu, que já tinha caído de uma incubadora, levado facadas nas costas, despedido sem aviso prévio, e que não era nenhum queixinhas mariconço como o filósofo, que se ofendia tanto por uma coisinha de nada. Pelo sim pelo não chamei o Delgado para me apoiar, coisa que aliás não preciso de lhe pedir, e o gajo fez logo a comparação entre mim e o Bush, esse grande estadista, cujo nível de competência igualava o meu, que foi atacado por todos os lados e ganhou as eleições, pior ainda, atacado por aviões comandados por sujeitos que andam de mãozinha dada lá na terra deles mas que espalham o terror e a desordem na terra dos outros. É claro que a pergunta que ficou no ar foi com quem andaria o filósofo de mãozinha dada nas horas vagas, nas horas em que não andava em campanha de difamação das pessoas de bem. No meio de tudo isto acabei por despedir o Elias, que passou a usar uma camisa de forças e um capacete de espuma para não amolgar mais a ombreira da porta, e contratei o Delgado que me agradeceu efusivamente com uma tirada magnânima: - No dia 20 é que a gente conversa!
Assim já estou mais descansado e confiante na vitória. Só falta convencer o eleitorado que o Louçã é radical, que o Jerónimo é comuna, e que o Portas é gay.

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