A minha vizinha do rés-do-chão tem a casa alagada por causa de um cano que rebentou. Aflita, chamou-me para ver se eu conseguia remediar o assunto, já que a minha fama cá no bairro é que eu tenho algum jeitinho para resolver encrencas. É assim, dou um jeitinho, mas não percebo nada de nada, sou apenas especialista em coisa nenhuma. Por mais que diga à vizinhança que sou como sou, não me largam a porta a pedir ajuda para desentupir a sanita, arranjar a porta da rua que empenou, trocar a lâmpada da cozinha, montar o móvel cheio de estilo comprado no IKEA, programar o comando da televisão, mudar o óleo ao carro, e até passear o Bobby porque o dono está engripado. Sou assim como todos os portugueses, sei fazer um pouco de tudo sem ser especialista em coisa alguma. Há até gente famosa que assina projectos com um diploma de engenharia comprado na feira da ladra, quem brinque aos banqueiros como quem joga monopólio com os amigos, quem treine equipas de futebol sem ter passado no exame final do jogo do berlinde. Deveria existir um doutoramento em coisa nenhuma, pois só assim os portugueses subiriam no ranking dos povos com mais doutores e engenheiros a sério, mesmo que não saibam fazer nada e deêm um jeitinho em praticamente tudo.
Assim, quando alguém me viesse pedir ajuda para consertar seja o que for, pregava-lhe com diploma do doutoramento nas fuças e cobraria honorários a raiar o escândalo.
É certo que a minha vizinha do rés-do-chão de vez em quando tem um cano entupido ou a máquina de lavar aos saltos pela cozinha, e quando me pede ajuda trás sempre aquela provocante camisinha de noite, e eu, enfim, lá faço o jeitinho.
Afinal estamos cá uns para os outros, e não preciso de um diploma nem de um banco tipo BPP ou BPN, para que toda a gente fique feliz.
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