Apareces na TV com o teu sorrisinho tonto e hipócrita, debitas estereótipos de lugares comuns, pões um ar emproado pretensiosamente inteligente, cospes uma idéia de autoritarismo que te permite a simpatia dos teus colaboradores, e estás sempre onde algum microfone ou câmara de TV te possa acidentalmente encontrar para debitares as tuas futilidades de salão, os teus projectos políticos para coisa nenhuma, enfim, todo o aborrecimento com que contaminas todos os que, tal como eu, te conhecem de ginjeira, eu ainda mais que os outros.
Conheci-te na universidade, eras uma rapariga gira, gostavas de estar sempre rodeada de bétinhos e tótós da linha de Cascais, mas preferiste este radical frustrado simpatizante de uma esquerda frustada, cheio de borbulhas, ideais e dúvidas existênciais. Durante algum tempo ainda guardaste no baú o teu desejo de um estatuto social que te permitisse aceder ao reino dos deuses, coisas de uma educação elitista em colégios privados e muito caros, aliás quanto mais caros melhor, mas depois a pressão do papá embevecido e da inútil mamã que elogiava a filhota em maratonas de chás-canasta fez-te voltar à razão, e não gozando eu das simpatias dos teus progenitores, eu, o puto de barba mal feita, esquerdista frustrado, um bandalho e um agitador, fui encostado à parede com promessas de um bom emprego na empresa do paizinho, desde que abandonasse as idéias de merda e as t-shirts, e abraçasse o politicamente correcto mais o fato e gravata. A coisa era tentadora, até porque (lembras-te?) quando estávamos juntos e sós afundávamo-nos em sexo até partir, valia tudo, mesmo tudo, e o que eu menos queria era separar-me de ti. E aceitei o tacho sem precisar de acabar o curso. E casei contigo. E engoli todos os sapos que a tua família me meteu no prato apenas por gostar de ti. Só por isso.
Mas depois as influências políticas do teu papá empurraram-te para cima, as reuniões com a administração, os jantares de representação, as viagens pagas, e mais as sessões de propaganda do partido, os comícios de verão, as primeiras idas à TV. E eu fiquei para trás, debaixo da minha pilha de papéis de incompetência, sem o teu sexo, sem a tua presença, sem o teu cheiro.
Daí ao divórcio foi um passo. Pressionada pelo cabrão (literalmente) do teu pai alegaste a minha insensibilidade e o meu humor variável para me dares um chuto. Esqueces-te que me traís-te com o teu personal trainer, um badameco com ar gay, a quem eu um dia pedi explicações sem te dizer nada e levei uma sova que me deixou três semanas acamado e a comer por uma palhinha. E depois do personal trainer veio o marido da tua melhor amiga, o palerma que era o 358º tenista no ranking mundial, e quando fodeste com o secretário-geral do partido na altura eu, aí sim, perdi a cabeça e chamei-te puta entre outros adjectivos impróprios.
E aqui fiquei eu, divorciado e só, sem emprego, com o curso incompleto e a tua memória a atormentar-me as noites de insónia. Vi-te quando entraste para o governo, rodeada de pavões bem falantes a debitar lugares comuns sobre progresso e desenvolvimento, vi-te quando te envolveste naquele escândalo do tráfico de sangue, vi-te quando saíste ilibada do tribunal porque, por mero acaso, o juiz era membro do teu partido e privava com o cabrão do teu papá enquanto por trás fodia a tua mamã. Vi-te quando perdeste as eleições e aceitaste aquele cargo na PT, muito bem pago só para mostrares as pernas aos colegas, e privares com algum administrador em algum quarto de hotel durante as viagens de representação. Sim, porque para ti não é difícil, toda a gente sabe da superior qualidade dos teus broches.
Conheci-te na universidade, eras uma rapariga gira, gostavas de estar sempre rodeada de bétinhos e tótós da linha de Cascais, mas preferiste este radical frustrado simpatizante de uma esquerda frustada, cheio de borbulhas, ideais e dúvidas existênciais. Durante algum tempo ainda guardaste no baú o teu desejo de um estatuto social que te permitisse aceder ao reino dos deuses, coisas de uma educação elitista em colégios privados e muito caros, aliás quanto mais caros melhor, mas depois a pressão do papá embevecido e da inútil mamã que elogiava a filhota em maratonas de chás-canasta fez-te voltar à razão, e não gozando eu das simpatias dos teus progenitores, eu, o puto de barba mal feita, esquerdista frustrado, um bandalho e um agitador, fui encostado à parede com promessas de um bom emprego na empresa do paizinho, desde que abandonasse as idéias de merda e as t-shirts, e abraçasse o politicamente correcto mais o fato e gravata. A coisa era tentadora, até porque (lembras-te?) quando estávamos juntos e sós afundávamo-nos em sexo até partir, valia tudo, mesmo tudo, e o que eu menos queria era separar-me de ti. E aceitei o tacho sem precisar de acabar o curso. E casei contigo. E engoli todos os sapos que a tua família me meteu no prato apenas por gostar de ti. Só por isso.
Mas depois as influências políticas do teu papá empurraram-te para cima, as reuniões com a administração, os jantares de representação, as viagens pagas, e mais as sessões de propaganda do partido, os comícios de verão, as primeiras idas à TV. E eu fiquei para trás, debaixo da minha pilha de papéis de incompetência, sem o teu sexo, sem a tua presença, sem o teu cheiro.
Daí ao divórcio foi um passo. Pressionada pelo cabrão (literalmente) do teu pai alegaste a minha insensibilidade e o meu humor variável para me dares um chuto. Esqueces-te que me traís-te com o teu personal trainer, um badameco com ar gay, a quem eu um dia pedi explicações sem te dizer nada e levei uma sova que me deixou três semanas acamado e a comer por uma palhinha. E depois do personal trainer veio o marido da tua melhor amiga, o palerma que era o 358º tenista no ranking mundial, e quando fodeste com o secretário-geral do partido na altura eu, aí sim, perdi a cabeça e chamei-te puta entre outros adjectivos impróprios.
E aqui fiquei eu, divorciado e só, sem emprego, com o curso incompleto e a tua memória a atormentar-me as noites de insónia. Vi-te quando entraste para o governo, rodeada de pavões bem falantes a debitar lugares comuns sobre progresso e desenvolvimento, vi-te quando te envolveste naquele escândalo do tráfico de sangue, vi-te quando saíste ilibada do tribunal porque, por mero acaso, o juiz era membro do teu partido e privava com o cabrão do teu papá enquanto por trás fodia a tua mamã. Vi-te quando perdeste as eleições e aceitaste aquele cargo na PT, muito bem pago só para mostrares as pernas aos colegas, e privares com algum administrador em algum quarto de hotel durante as viagens de representação. Sim, porque para ti não é difícil, toda a gente sabe da superior qualidade dos teus broches.
E é por tudo isto que te vou matar. Salto o muro da tua moradia de luxo na Quinta da Marinha depois de drogar o estupor do teu cão, entro no teu quarto a coberto do escuro da noite, surpreendes-me quando acendes a luz, saco da ponta e mola e preparo o ataque e tu ris, ris mostrando os caninos grandes e pontiagudos , e saltas, não, voas, com a dentuça arreganhada em direcção ao meu pescoço, e eu, apanhado de surpresa, só penso nos teus caninos e na tua pele pálida quase transparente que sempre me intrigou.