Estava eu tranquilamente a sonhar que era raptado e violado por 15 amazonas ucranianas quando a sirene irritante do meu despertador de emergência se lembrou de tocar, o que só acontece quando alguém sabe o código e actua o interruptor respectivo. Muitos anos de treino fizeram-me saltar de imediato da cama e desembainhar a cimitarra em estado de alerta. Na semi-obscuridade do quarto reconheci o vulto que esperava aos pés da cama, e que eu, no meu despertar violento, quase degolara. Nada mais nada menos que o Elias, lacaio profissional a recibos verdes. O homem estava esbaforido, vermelho que nem um pimentão e assobiava enquanto respirava. Foram precisos dois tabefes para o acalmar.
- Vem depressa, - disse ele - o Filósofo sofreu um atentado!
Notícias destas até despertam um morto. Não é todos os dias que alguém tenta matar o Filósofo e uma oportunidade destas pode dar direito a uma promoção e uma boa reforma com dez anos de serviço. Vai daí vesti o fato cinzento por cima do colete à prova de bala que mais não era que uma chapa quadrada de ferro de três milimetros de espessura sobre o peito, coisa que copiara de um filme com o Clint Eastwood, verifiquei o carregador da Beretta, pus os óculos escuros, atirei um beijo à loira em estado de choque que partilhara os meus lençóis nessa noite, e saí porta fora arrastando o Elias e gingando os ombros à Mickey Spillane.
Quando chegámos à Residência Oficial já o jardim estava repleto de gnr´s de metralhadora a beberem minis, e foi um sarilho para convencer o capitão da guarda que tanto eu como o Elias éramos simples funcionários públicos do Gabinete de Segurança e não sindicalistas comunas e gays. A coisa ia dando para o torto não fora a intervenção do Chefe Silva, amigo pessoal do Filósofo e ministro nas horas vagas.
O Chefe Silva tratou de nos elucidar sobre os pormenores do atentado, coisa grave segundo ele. Passou-se assim: o Filósofo dissertava para uma pequena multidão de autistas sobre as vantagens de secar de vez o rio Tejo entre Abrantes e Vila Velha de Rodão para semear alguns milhares de campos de golfe com hotéis e spa´s, quando duas detonações se fizeram ouvir. De imediato a Protecção Civil interrompeu o jogo de canasta para acudir à cena, enquanto o Ministro da Defesa mandava acelerar a compra dos submarinos e o Lino ameaçava com mais quatro aeroportos. O Filófoso foi metido à força no rápido das 10 direito à Residência Oficial e por aí ficou, a beber chá e a comer bolinhos, coisa que sempre faz antes do jogging matinal.
A guarda deteve os suspeitos do costume, o Jerónimo e o Chico das Loiças, mais o Madaíl que apesar de não ter nada a ver com o assunto sempre era mais um com ar de suspeito. Os interrogatórios não foram conclusivos pelo que esta gente foi mandada em paz e com promessas de não dar entrevistas à Judite de Sousa, não fosse o diabo tecê-las.
De modo que se estava num impasse, e daí a necessidade de um agente especial, mais dado à inteligência, este aqui que vos escreve.
Sem saber bem o que queriam de mim, dado que o Filósofo estava vivo e bem de saúde para mal de muita gente, resolvi justificar o bónus interrogando a Dama Laranja que não respondeu a qualquer pergunta, o Marcelo que fugiu mal avistou o Ministro da Agricultura armado de ponta e mola, o P. Pereira que começou a dissertar sobre a questão essencial, e o Graça Moura que por pouco não era por mim estrangulado quando se pôs a falar contra o acordo ortográfico. Como não queria deixar ninguém de fora perguntei pelo Presidente, pergunta delicada dado o rasto de migalhas de bolo-rei que larga ao deslocar-se. Mas o homem estava em visita oficial ao Burkina-Fasso, acompanhado de mais de uma centena de empresários e respectivas coristas, pelo que não podia ser apelidado de suspeito.
Impaciente, o Chefe Silva começou a fazer aquele beiçinho que toda a gente conhece e pressionou-me para acelerar o comunicado aos media, pois é pela eficácia da justiça que se mede o ópio de um povo.
E foi ao som da música do José Cid em fundo e os habituais jogos de luzes e fumos brancos que o Elias leu o seguinte comunicado à comunicação social:
“Avisam-se os incautos que o Filósofo sofreu esta manhã um atentado com tiros de pólvora seca disparados para o ar com o único intuito de o assassinar. O Filósofo agradece a todos o empenho na investigação e celeridade da justiça, e avisa que vai mesmo assim participar na reunião anual da Fundação Bilderberg, onde serão tomadas novas decisões que comprometerão de vez o vosso futuro.
O principal suspeito é um cidadão de nacionalidade iraniana com ligações à Al-Qaeda que, juramos a pés juntos, nunca será levado para Guantanamo.
Abaixo o Terrorismo! Viva o TGV! Viva Alcochete!”
Com a missão cumprida, voltei ao aconchego do lar e ao quentinho da cama onde a loira ressonava em cima da minha almofada. Ainda tentei adormecer e retomar o sonho das amazonas no exacto momento em que fora interrompido, mas a consciência profissional por vezes deixa sequelas e não consegui evitar de pensar em como a vida é, por vezes, muito complicada.
- Vem depressa, - disse ele - o Filósofo sofreu um atentado!
Notícias destas até despertam um morto. Não é todos os dias que alguém tenta matar o Filósofo e uma oportunidade destas pode dar direito a uma promoção e uma boa reforma com dez anos de serviço. Vai daí vesti o fato cinzento por cima do colete à prova de bala que mais não era que uma chapa quadrada de ferro de três milimetros de espessura sobre o peito, coisa que copiara de um filme com o Clint Eastwood, verifiquei o carregador da Beretta, pus os óculos escuros, atirei um beijo à loira em estado de choque que partilhara os meus lençóis nessa noite, e saí porta fora arrastando o Elias e gingando os ombros à Mickey Spillane.
Quando chegámos à Residência Oficial já o jardim estava repleto de gnr´s de metralhadora a beberem minis, e foi um sarilho para convencer o capitão da guarda que tanto eu como o Elias éramos simples funcionários públicos do Gabinete de Segurança e não sindicalistas comunas e gays. A coisa ia dando para o torto não fora a intervenção do Chefe Silva, amigo pessoal do Filósofo e ministro nas horas vagas.
O Chefe Silva tratou de nos elucidar sobre os pormenores do atentado, coisa grave segundo ele. Passou-se assim: o Filósofo dissertava para uma pequena multidão de autistas sobre as vantagens de secar de vez o rio Tejo entre Abrantes e Vila Velha de Rodão para semear alguns milhares de campos de golfe com hotéis e spa´s, quando duas detonações se fizeram ouvir. De imediato a Protecção Civil interrompeu o jogo de canasta para acudir à cena, enquanto o Ministro da Defesa mandava acelerar a compra dos submarinos e o Lino ameaçava com mais quatro aeroportos. O Filófoso foi metido à força no rápido das 10 direito à Residência Oficial e por aí ficou, a beber chá e a comer bolinhos, coisa que sempre faz antes do jogging matinal.
A guarda deteve os suspeitos do costume, o Jerónimo e o Chico das Loiças, mais o Madaíl que apesar de não ter nada a ver com o assunto sempre era mais um com ar de suspeito. Os interrogatórios não foram conclusivos pelo que esta gente foi mandada em paz e com promessas de não dar entrevistas à Judite de Sousa, não fosse o diabo tecê-las.
De modo que se estava num impasse, e daí a necessidade de um agente especial, mais dado à inteligência, este aqui que vos escreve.
Sem saber bem o que queriam de mim, dado que o Filósofo estava vivo e bem de saúde para mal de muita gente, resolvi justificar o bónus interrogando a Dama Laranja que não respondeu a qualquer pergunta, o Marcelo que fugiu mal avistou o Ministro da Agricultura armado de ponta e mola, o P. Pereira que começou a dissertar sobre a questão essencial, e o Graça Moura que por pouco não era por mim estrangulado quando se pôs a falar contra o acordo ortográfico. Como não queria deixar ninguém de fora perguntei pelo Presidente, pergunta delicada dado o rasto de migalhas de bolo-rei que larga ao deslocar-se. Mas o homem estava em visita oficial ao Burkina-Fasso, acompanhado de mais de uma centena de empresários e respectivas coristas, pelo que não podia ser apelidado de suspeito.
Impaciente, o Chefe Silva começou a fazer aquele beiçinho que toda a gente conhece e pressionou-me para acelerar o comunicado aos media, pois é pela eficácia da justiça que se mede o ópio de um povo.
E foi ao som da música do José Cid em fundo e os habituais jogos de luzes e fumos brancos que o Elias leu o seguinte comunicado à comunicação social:
“Avisam-se os incautos que o Filósofo sofreu esta manhã um atentado com tiros de pólvora seca disparados para o ar com o único intuito de o assassinar. O Filósofo agradece a todos o empenho na investigação e celeridade da justiça, e avisa que vai mesmo assim participar na reunião anual da Fundação Bilderberg, onde serão tomadas novas decisões que comprometerão de vez o vosso futuro.
O principal suspeito é um cidadão de nacionalidade iraniana com ligações à Al-Qaeda que, juramos a pés juntos, nunca será levado para Guantanamo.
Abaixo o Terrorismo! Viva o TGV! Viva Alcochete!”
Com a missão cumprida, voltei ao aconchego do lar e ao quentinho da cama onde a loira ressonava em cima da minha almofada. Ainda tentei adormecer e retomar o sonho das amazonas no exacto momento em que fora interrompido, mas a consciência profissional por vezes deixa sequelas e não consegui evitar de pensar em como a vida é, por vezes, muito complicada.
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