sexta-feira, julho 13, 2007
S. Francisco Jazz Collective
Assistir a um bom concerto de Jazz é algo de fascinante. Sobretudo quando o eterno gajo do assobio ou do gritinho Ooooo! se faz ouvir quando o solista se esganiça numa nota mais aguda. Penso que deveriam atribuir um subsídio a este gajo pois é tão imprescindível num concerto de Jazz como a baquete do baterista. E faz sentir aos outros pacóvios que ali estão a assistir em respeitoso silêncio que é o único apreciador, o único gajo que vibra com a música.
Vem isto a propósito das eleições em Lisboa. Alguns candidatos fazem as suas arruadas rodeados de apoiantes ferrenhos, de bandeirinha em punho, a gritar palavras de ordem tipo “o Negrão é o mais mandão” ou “o Carmona tem uma ganda mona”. No meio desta barbárie há aquele militante mais expansivo, normalmente o que acaba a gritar sózinho as palavras de ordem quando toda a gente já se calou por estar rouca. E depois vêm sempre aqueles que começam aos pulinhos, e obrigam o desgraçado candidato a pular também, e o sujeito sai dali arfante a cuspir maços de tabaco pelo passeio fora, todo convencido que aqueles pulinhos vão dar mais alguns votos. E há sempre uma velha gorda aos beijos a toda a gente ou a dançar o vira, e a esta hora o candidato que já está quase recuperado dos pulinhos tem um enfarte com tanta dança. Falo aqui de candidatos mas esqueço-me da candidata Helena Roseta. A senhora não tem ninguém que pule ou dance com ela, e por isso é que aparece vestida na campanha com aqueles coletes reflectores na esperança que algum eleitor desprevenido se aproxime e lhe pergunte “Dona Helena, quer chame o reboque ou é só um pneu furado?”. E vai daí toma lá o panfleto, vota bem, filho.
Mas a piada toda é quando algum pega na vassoura e se põe a limpar a rua, ou a apagar grafittis com jacto de areia, ou a passear nos camiões do lixo. E quando propõem implodir o Martim Moniz ou transformar a Portela num centro de negócios? E parques de estacionamento nos edifícios da Baixa? Confesso, a última vez que ri assim desalmadamente em campanhas eleitorais foi quando o Marcelo andou a banhos no Tejo.
No fim vale tudo para chamar a atenção do rebanho. Mas neste circo é suposto o papalvo que por acaso assiste ao triste espectáculo ficar tão embasbacado que no dia da eleição lá vá botar o seu voto no candidato que mais o surpreendeu. “É pá o Negrão dá saltos comó camandro!” ou “O da barbicha que é contra os pretos é que diz a verdade, pá!” ou ainda “Se a Roseta anda no lixo deve ter a casinha dela num brinquinho”. Lavagem cerebral de pacóvios ou lobotomia sem dor.
Mas que raio ganha o gajo do assobio e do gritinho Ooooo! nos concertos de Jazz? A organização paga-lhe para o espectáculo parecer mais cool?
“É pá, meu, pá, aqueles marmanjos lá em Espanha sabem apreciar a música, pá! Ele é assobios, ele é gritos esquisitos, pá! Tudo coisas ca gente não está habituada a ouvir nos nossos concertos pelo mundo fora, né?” Será isto que o gajo pensa ou faz o mesmo nos concertos do Quim Barreiros?
A propósito de Jazz, o S. Francisco Jazz Collective inclui alguns dos melhores músicos de jazz da actualidade. O mesmo não posso dizer dos candidatos à Câmara de Lisboa. Aí toda a música desafina.
Para que conste: Andre Hayward, Renee Rosnes, Eric Harland, Miguel Zenon, Matt Penman, Dave Douglas, Stefon Harris e Joe Lovano.
Nestes voto eu.
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