Pede-me o Decano (e sabem como um pedido seu tem a força de um artigo constitucional) uma opinião sobre a revelação que o escritor alemão Günter Grass fez publicamente sobre o seu passado nazi. Ora passados há muitos, infelizmente passados nazis também, e o escritor que foi durante muitos anos referência de uma certa esquerda alemã não fugiu à regra. Do senhor apenas conheço a versão cinematográfica do seu romance O Tambor, o que é uma vergonhosa e intolerável ignorância. Rebuscando por entre os entrefolhos da net descobri algumas coisas das quais destaco as que considero mais relevantes:
- O senhor Grass nasceu em Danzig, na Polónia.
- Que aos 15 anos (em 1942) se ofereceu como voluntário para os submarinos alemães.
- Aos 17 alistou-se nas Waffen-SS, a élite das élites do senhor Heinrich Himmler.
- Combateu na 10ª Divisão SS Panzer de Frundsberg entre Fevereiro e Abril de 1945, até os americanos lhe deitarem a mão e o enfiarem num campo de prisioneiros.
- Na prisão travou conhecimento com o insígne Josep Ratzinger, nazi convicto, católico extremista, futuro Papa Bento XVI.
- Mais tarde aderiu ao SPD (Partido Social Democrata) onde apoiou a ascensão de Willy Brandt.
- Aquando da queda do muro de Berlim, Grass manifestou-se contra a unificação das duas Alemanhas por recear a formação de um novo estado militarmente poderoso.
É este mesmo Günter Grass que opina desta forma sobre os americanos e sobre George Bush, e começo a entender porque é que a direita, principalmente a direita da lusa pátria não lhe perdoa o passado nazi. Se o passado do famigerado Papa é sobejamente conhecido mas sistemáticamente ignorado, já o passado de um escritor famoso, galardoado com o prémio Nobel e conotado com a esquerda serve para o desancar e desacreditar. Não que seja isento de culpas. Um puto de 15 anos que se alista nos submarinos nazis é culpado de quê? Mas quando se alista nas SS aos 17 aí o caso pia mais fino. Mesmo que ele não soubesse o que representavam na altura as SS poderia ter feito a sua penitência em devido tempo, mas se acaso o tivesse feito teria sido o mesmo Günter Grass a referência da última geração de políticos europeus com alguma réstia de ética?
É verdade que depois desta revelação o seu último livro se vendeu mais que cerveja no Verão, que isto talvez tenha sido uma rasteira jogada de marketing. Mas custa-me ver o senhor Grass ser atirado desta forma às feras. A direita rejubila, a esquerda critica.
E agora? Que moral tem Günter Grass para desancar nos filhos de puta que enxameam a Casa Branca? Basta-lhe levantar o dedo mindinho para lhe caírem todos em cima (esquerda, direita e afins) e todos sabemos como as vozes críticas ao estado a que chegou esta latrina são cada vez menos. E é por isso que eu não perdoo a Günter Grass o seu passado.
Sobre este assunto aconselho que leiam isto e mais isto
Algumas notas biográficas sobre Günter Grass encontram-se aqui.
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