segunda-feira, novembro 07, 2005

Vegetais, bifes e cavacos

Desde que prima Ossétia se tornou vegetariana, a vida cá em casa já não tem o mesmo sabor. Para já deixámos de comer de frango constipado por causa da gripe, e agora a rica priminha não nos deixa tocar no bifinho de alcatra marca carrefour que em dias de fartura servia para tapar os buracos dos sapatos do Arturzinho. O pobre rapaz anda tão mal que já só tem buracos em vez de sapatos, sintomas da crise que se vive cá em casa e que não há meio de passar.
Mas no meio desta desgraça, o tio Américo que está na América enviou-nos por DHL uns hamburgueres genuínos do Texas, nada como essa merda que comemos aqui na Europa, pois cheiram pior, sabem pior e têm 10 vezes mais colesterol que os seus congéneres europeus. Lá conseguimos remendar os buracos dos sapatos do Arturzinho, que viu assim o cheiro característico dos seus pés ser substituído pelo cheiro avassalador dos bois texanos, coisa que felizmente já nós estávamos habituados.
A prima Ossétia é que não gostou nada da coisa, e, entre uma mastigadela de ensopado de alcachofra e um gole de sumo de couve lombarda disse das boas e das bonitas sobre a nossa dependência da carne bovina e afins, e até eu que sou um insigne apreciador de coxas, especialmente as da prima Ossétia, fiquei deveras envergonhado e prometi a mim mesmo nunca mais olhar um pedaço de carne de frente. Bom, olhar é diferente de tocar ou mastigar, não é?
Mas o que mais me emocionou nestes últimos tempos foi a apaixão assolapada que a avó Urzelina demonstrou por aquele sujeito fininho e de queixo rabeca que parece que já é presidente antes de ser eleito, o tal Cavaco, Silva de alcunha. Calculem que avó colocou uma fotografia do senhor recortada do Expresso na mesinha de cabeçeira, entre a imagem da senhora de Fátima e a capa do último CD pirata do Marco Paulo, que a avózinha comprou recentemente na feira do Relógio a um paquistanês da Reboleira. E todas as noites antes de adormecer faz a sua reza habitual, mas introduzindo na lamúria uma petição divina pela boa saúde do sr. Silva, Cavaco de alcunha, pois é o único ser erecto à face da terra capaz de salvar a família do desastre. Pelo sim pelo não, a avó Urzelina já fez saber aos quatro ventos e em anúncios de jornal que apoia o sr. Aníbal, Cavaco de apelido, e que não torna a cair no erro de alguns atrás de apostar no candidato errado que veio a vencer as eleições e que levou o pessoal a colar bifes de alcatra nos sapatos.
Mas isto já me cheira a esturro, mesmo com o cheiro abominável dos hamburgueres texanos do tio Américo. Primeiro a prima Ossétia volta-se para os vegetais, depois a avó Urzelina converte-se ao cavaquismo, abandonando de vez os adventistas do sétimo dia, e para rematar o tio Augusto, que vivia no sótão no meio de posters de vaginas, perdeu definitivamente a razão, confundindo-se a ele próprio com uma amiba do período Protozeico.
E eu? Que faço no meio disto tudo? Está fora de hipótese tornar-me vegetariano, não condiz com a minha concepção do mundo. Apoiar Cavaco, o Silva? Ainda não estou deficiente mental, apesar de para lá caminhar a passos largos. Comer hamburgueres texanos? Já me basta comer o pão que o diabo amassou...
De modo que fico para aqui a cismar e a pensar nas coxas da prima Ossétia, e talvez chegar à conclusão que o Tio Augusto é que está certo no seio desta família...

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