Gosto de ler os artigos de Miguel Sousa Tavares no Público, mesmo que por vezes, não concorde com tudo o que lá vai escrito. É dos poucos comentadores que não anda a soldo de poderes nem é lambe-botas. Mas não posso deixar de sentir, de cada vez que o leio, um mal estar pela verdade e frontalidade com que escreve. O artigo de hoje (21/05) é um somatório de desilusões e fracassos, violência, corrupção e esperanças perdidas, cá dentro e lá fora. Se já andamos a bater mal devido ao garrote diário deste governo, pior ficamos depois de ler o Miguel. Apesar de conhecermos a verdade dos seus escritos, e a justeza da sua opinião.
Vem isto a propósito da tão badalada auto-estima dos portugueses. O tema, de tão corriqueiro nos dias de hoje já tem direito a conferência. E não posso deixar de sentir algum gozo e alívio ao ler a notícia de abertura deste congresso em que o principal orador foi Vasco Pulido Valente. Mesmo sem simpatizar com os seus escritos, não resisto a citar a intervenção do dito comentarista. Na sua opinião os portugueses não têm falta de auto-estima, têm é auto-estima a mais! E explica: ao longo da nossa história, os fracassos e a culpa foram sempre dos outros, por exemplo, dos jesuítas, dos judeus, dos absolutistas, dos monárquicos, dos fascistas, dos comunistas, e por aí fora. Ou seja, os portugueses têm tanta auto-estima que não admitem o seu próprio fracasso. E mais: as políticas para melhoria da nossa condição são sempre importadas de experiências no estrangeiro, para que se alguma coisa falhar a culpa não recaia em cima de nós. E conclui Vasco Pulido Valente: para encontrarmos o caminho do progresso temos de perder a nossa auto-estima, pois só se aprende com os nossos próprios erros.
Citando a notícia, parece que esta opinião fez agitar a plateia que reagiu com contra argumentos primários típicos da ?inteligentzia? dominante actual (vide Público de 21/05, pág. 11), e que no final perguntou de que modo V.P. Valente resolveria o actual estado depressivo dos portugueses.
Resposta deliciosa: com um novo ciclo de prosperidade, pois se houver mais dinheiro as pessoas sentem-se logo melhor, a depressão passará, e conferências deste tipo deixarão de ter razão de ser.
Para terminar, esclareço que não sou accionista do Público, nem amigo do Miguel Sousa Tavares, mas se não concordarem com o que atrás foi escrito garanto-vos que a culpa não é minha, é deles.
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