Cidadão interessado, leio, vejo, oiço,
vou-me informando como posso dos males que afligem o país. Males que para mim
não são novidade, pois os previ – tenho provas escritas – em fins de 1975 e
pelos anos adiante.
Exigem agora os credores que se pague o
devido e os governantes tomam a si o papel de homem do fraque, batem a horas
mortas à porta do cidadão a lembrar-lhe a dívida. A lembrar-lhe também que foi
tolo, não devia ter acreditado em histórias da carochinha.
Na confusão de responsabilidades e
obrigações uma coisa surpreende: nos centros onde o poder reside, as únicas
cabeças que mudam são as dos títeres engravatados que, ora anunciam pomposamente
medidas de salvação, ora assustam com profecias de pragas bíblicas. Os senhores
que de facto mandam são, mais cabeça menos cabeça, os que vêm do antigamente
pré-revolucionário. Seguram eles com mão firme os cordelinhos e agem a seu
bel-prazer, de modo que constantemente me ocorre a pergunta: que democracia é
esta, que me dizem existir e mal consigo enxergar?
Porque vamos lá a ver: temos todos os
mesmos direitos? Não temos. As mesmas oportunidades? O mesmo tratamento? Olham
os juízes de modo igual para o senhor Isaltino e para o Manel que roubou uma
carteira? Goza o pobre que deve quinhentos euros ao fisco uma impunidade de
sucateiro ou empreiteiro? Se me falta a sopa dá-me algum benefício a liberdade
de expressão, "esse grande bem"?
Pode ser que Portugal se salve, mas com
os meus oitentas anos já não estarei cá para ver. Uma certeza tenho: sem mudança
radical de mentalidade nos que mandam, mas sobretudo nos mandados, nada impede
que, melhor que qualquer banco americano, Angola ou o Brasil nos
colonizem.
Por isso, como os reis e os ditadores já
se foram, corra-se então agora com os régulos que temos. Formem os jovens uma
verdadeira Oposição. Esforcem-se por construir o país que merecem, um país
decente, recusando este de corrupção, dependência, subserviência e
mendicidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário