De facto, este blog não tem interesse nenhum, ninguém, ou quase, escreve aqui, e o que publicamos não presta para nada. Mas este é o "Cagatório da TM", donde é mesmo assim e ponto final.
Eu próprio tenho andado arredado deste blog, não por falta de assunto, mas antes porque me ausentei em viagem transcendental desde que a "crise" assentou arraiais. Achei por bem aguardar para ver o que isto dava quando a "crise global" obrigasse a justificar a "crise" neste país, ou seja, até que chegássemos ao "país crise". E chegámos. Claro que sempre vivemos em crises, daí já estarmos habituados e nem sentirmos orgulho nacional se não tivermos uma crise em cima.
Mas agora temos uma a sério, daquelas que fazem um bom título para um livro, do tipo "Crónica De Uma Crise Anunciada". Agora temos a certeza que dentro de alguns meses a crise anunciada passa a ser não do país mas das pessoas que se dão pelo nome de portugueses, excepto para os já desempregados, para os pobretanas, para os velhos, para os que já andam na sopa dos pobres. E claro para aqueles que vivem à custa das crises e cada vez estão melhores.
A crise anunciada vai chegar quando os funcionários públicos e outros virem diminuido o valor no verbete do ordenado, quando forem à farmácia e tiverem de pagar um balúrdio pelos medicamentos fundamentais, quando tiverem de entregar a casita comprada ao banco por falta de pagamento, quando o fisco lhes retirar o carrito comprado a prestações ou com o dinheirito que uma tia-avó da província lhes deixou por morte.
A crise anunciada vai chegar no rigôr do inverno, quando o tempo obriga a um ar macambúzio e a um desespero que só o sol pode apaziguar.
E tudo isto porquê? Claro, por culpa dos mercados. Eu sempre disse que os mercados deviam acabar e serem todos substituídos por supermercados. A culpa é das peixeiras deste país, dos vendedores de batatas e feijão a quilo, dos negociantes da couve-flor e rabanetes.
Mas o problema principal não são os mercados nacionais mas sim os do estrangeiro. Estes eu não conheço, mas sei que há um bem grande de flores na Holanda e outro ainda maior de petróleo em Londres, e na amérdica nem faço ideia de quantos haverá. De certeza que não têm peixeiras a regatear o quilo da sarda ou vendedores a venderem um quilo de feijão-frade por oitocentos e cinquenta gramas. Nesses do estrangeiro os vendedores são profissionais honestos e não brincam em serviço nem andam aos beijinhos ao Paulo Portas.
Com o anúncio da crise que aí vem, a inventividade deste povo luso foi mais uma vez posta à prova e provou ser capaz de inventar os pec´s e os orçamentos nacionais como mais ninguém ousaria descobrir. Porque a massa não nasce do céu, excepto para alguns iluminados pelas sagradas escrituras que fazem milagres que até o deus deles coraria de vergonha, a crise anunciada obriga aos que tiveram o infortúnio de decidir pelos outros a tomarem medidas, ou melhor, a inventarem uma vez mais novas medidas. Assim, um quilo passa dentro de meses a valer menos que mil gramas, o metro passa a ter oitenta e sete centimetros, o cavalo passa a burro e até mil passa a quinhentos e setenta. Os cortes orçamentais anunciados vão levar ao anúncio dentro de meses de falta de verbas para o ensino, para a cultura, para a saúde, para a segurança social. Afinal coisa menores, pois os bancos e os donos do país não serão molestados e continuarão a assegurar um futuro promissor, aliás, como sempre têm sido o garante de mais e melhor país.
Como os tais mercados são zelosos com o bem público dos países, e em especial com o nosso, pois não se esquecem que fomos nós, os portugas, que inventaram o sistema monetário e demos novos mundos ao mundo, irão continuar a dar boa ajuda e daí a uns meses os nossos não menos zelosos decisores lá terão de inventar mais uns pec´s e orçamentos rectificativos que, finalmente, retirem por completo os orçamentos aos diversos sectores despesistas, tipo saúde, ensino, cultura e apoios sociais. Então sim, o país começará finalmente a traçar o futuro para que está destinado, sem mais mas nem meio mas. Uma colónia com assinatura reconhecida da germânica imperial e até com sorte, mais um estado da unidade amerdicana. E se formos rápidos, ainda teremos a senhora Merkel e o Obama a virem inaugurar o TGV.
Até que enfim!
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