quarta-feira, outubro 25, 2006

Futebolês

Dizem entendidos na matéria que a pégada ecológica de cada português corresponde a 2 campos de futebol. Ou seja, cada indígena consome o equivalente a 2 campos de futebol em recursos naturais. Sem querer entrar aqui em especulações e desculpas várias sobre esta conclusão, direi que o campo de futebol passou a ser, para além da função para que é destinado, a medida universal da desgraça. Quanta floresta ardeu este ano em Portugal? É pá, pouca coisa, prái uns 80.000 campos de futebol. E a desflorestação do Amazonas? É pá, por dia são queimados cerca de 10000 campos de futebol. E o furacão, pá, quantos campos de futebol devastou? E quantos campos de futebol de gente já se lixaram no Iraque, pá?
Já não basta o futebol ser o encómio do mau cheiro proveniente da latrina infecta frequentada pelos grunhos que supostamente o dirigem, para agora ser tomado à letra de uma unidade de medida da tragédia. Mas não fica por aqui a influência do vil desporto no quotidiano luso-larvar. Expressões como aquela gaija tem umas pernas que até parece um defesa central, ou então preguei-lhe uma borralhada na tromba que até parecia o Petit a jogar à bola, e ainda esta afinfei-lhe com dois penáltis nas nalgas que a gaija até viu estrelas!
Pois é, o futebol serve para tudo, esse desporto infame. E não é por acaso. Os seus dirigentes, praticantes, detractores e lacaios mais não fazem do que pôr-se mesmo a jeito. Ele é o apito dourado, ele é o jogador merdoso que bota discurso nas conferências de imprensa, ele é o treinador incompetente que mais não faz do desculpar-se a si e culpar os árbitros pela derrota, ele é os discursos inflamados de dirigentes cuja honestidade até faz a Mafia parecer uma creche. Assim com tanta mediatização e publicidade não nos podemos admirar que as citações futebolísticas substituam os hectares, os sopapos e o sexo anal. A pouco e pouco a colonização linguística vai criando os seus alicerces, e não tardará muito para que chamemos árbitro a um qualquer filho da puta do governo, os comentários do professor Marcelo sejam classificados de livres indirectos, os discursos de Marques Mendes de jogo rasteiro e rente à relva, e porque não Paulo Portas leva cartão amarelo porque fez falta por trás.
E deixo aqui o desafio (mais um termo tirado ao futebolês) para que me esclareçam quantos campos de futebol separam os ricos dos pobres e quantos Amazonas de campos de futebol conseguem medir a corrupção. Não preciso de mais nada. E quem vai ganhar as próximas eleições é o Gabriel Alves.

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