terça-feira, novembro 22, 2005

Incêndios, pai-nossos e cavacos

Cá em casa anda tudo à nora. Desde que a avó Urzelina deixou queimar a foto do Cavaco recortada do Expresso, e que estava no seu altar dos santinhos iluminada por velas de cera, que nunca mais tivemos sossego. Até o tio Augusto, coitado, que se julgava um protozoário, deixou o refúgio do seu sotão e desceu à terra, insistindo em apanhar o próximo metro para Tegucigalpa, e gritando aos sete ventos já estar farto de viver onde vive. A avó Urzelina é uma pessoa muito determinada, e quando lhe acontece alguma leva tudo à frente, que o diga o pobre do Arturzinho que ia ficando esmagado pela senhora e só a as suas botas novas forradas com bifes de alcatra importados do Texas o salvaram da desgraça, desatando a correr pela rua abaixo com a avó Urzelina a persegui-lo, culpando-o do incêndio no altar. A avó voltou-se então para o tio Augusto, acusou-o do crime hediondo de incendiário de fotos de candidatos, e ameaçou queimar todos os posters de vaginas que o tio tem no sotão. O tio ficou com a boca tão aberta de estupefacção que durante 2 semanas não a conseguiu fechar completamente. Subiu a correr ao sotão e ainda não apareceu cá em baixo, nem vivo nem morto. Eu, que não sou visto nem achado nestas histórias, prometi à avó Urzelina outra foto do tal Cavaco, não sei o que o homem tem para se deixar fotografar pelo Expresso, ainda se fosse algum prostituto daquelas revistas para gajas ninfomaníacas ainda vá, mas eu próprio duvido que o homem tenha algum atributo que mereça tal distinção.
Quem não duvida é aquele senhor com pinta de nazi, o tal Luís Delgado, que só falta descobrir a vocação do Cavaco para macho latino, assim a fazer concorrência ao Zeca Camarinha. Realmente, a julgar pelos elogios que o Candidato recebe deste senhor, é de desconfiar se aqui não existirão gostos duvidosos ou se não passa simplesmente de idolatria pagã.
Por falar em pagãos, vou todos os domingos com a prima Ossétia à catequese cá do bairro, faço todos os sacrifícios para estar perto da rica priminha, e até já aprendi o pai-nosso que rezo em coro com a prima, enquanto ela me deita uns olhares que me fazem aprender a rezar até as avé marias e o 13 de maio na cova diria. O catequista é um senhor qualquer das Neves, que parece que foi em tempos ministro do tal Cavaco da foto, vejam lá como o mundo é pequeno. Mas o tipo é esperto, pois não lhe passaram despercebidos os olhares da prima Ossétia e as minhas mãos em oração pelo meio das coxas dela. O fulano, se calhar ciumento, mandou-me recitar de joelhos as epístolas de S. João Baptista mais o versículo 3 do salmo de Ísaias aos jacobeus, e eu já tão farto do homenzinho mandei-o para a puta que o pariu, versículo 8 do salmo do Zé Povinho aos
filhos da dita, e o gajo ficou com a boca ainda mais aberta que o tio Augusto, de tal modo que um ninho de vespas floresceu lá dentro, e o tipo já não pode recitar loas ao Cavaco.
E foi assim que perdi uma oportunidade de ouro de trazer um poster do Cavaco para oferecer à avó, que anda tão desconsolada, coitadinha. Ainda pensei rasgar uma das fotografias do senhor que andam por aí à beira das estradas, mas parece que o Arturzinho teve a mesma idéia para poder voltar para casa e por àgua na fervura, e foi caçado por um gang de polícias à paisana que o enfiaram na Penitenciária. E se não fosse o tio Américo, o tal que está na América, interceder pelo pobre Arturzinho, ainda agora o rapazinho estaria a pão e água no calabouço, e não no Iraque a defender a civilização ocidental como serviço cívico. Realmente o tio Américo tem muitas amizades lá nos States, e é graças a ele que não falta nada na nossa querida casinha, nem papel higiénico para irmos para as traseiras aliviar o traseiro, nem pastilhas elásticas que têm servido para tapar os buracos do tecto quando chove. E vejam bem que o tio até enviou à avó Urzelina um poster do Cavaco novinho em folha, todo colorido e devidamente retocado pela fábrica de efeitos especiais Holy Magic Bush & Light, mais uma colecção de velas a pilhas sem qualquer perigo de incêndio!
E enquanto isto cá em casa vai entrando aos poucos na normalidade, eu sempre vou rezando uns pai-nossos à noite no quarto da prima Ossétia, que esta vida não é feita exclusivamente de prazeres terrenos.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Desenho Inteligente

Estava para não falar nisto, mas hoje, como até o astrónomo do Vaticano "refilou", vou voltar à carga.

Atão não é que o Supremo Tribunal do Kansas (sim, aquele nos USA de onde levantou voou a Dorothy do Feiticeiro de Oz) tornou obrigatório que na disciplina de Ciências fosse ensinada, em contraposição à Teoria da evolução de Darwin, uma "coisa" chamada "Desenho Inteligente" que não é mais do que um novo nome para o Creacionismo.

O que o Sr.Astrónomo papal veio dizer e muito bem é que esta "coisa" poderia ser dada nas aulas de religião ou na de história, mas nunca como uma ciência pois não obedece aos preceitos científicos mínimos.

No "Desenho Inteligente" diz-se resumidamente que a Vida o Universo e tudo o resto é complicado de mais para ter origem em evoluções aleatórias e portanto, tal como o homem pré-historico acreditava em deuses do fogo, da água, do trovão, etc., os modernos kansistas podem acreditar à vontade num supra-desenhador que orientou a evolução até chegarmos a este cúmulo da inteligência que são os .... juizes do Supremo Tribunal do Kansas.

Mas isto não é de admirar num monte de pacóvios que acreditam que o Brusho é o salvador do "americam way of life". E já agora, se as CIAs, NSAs e quejandos recolherem isto e tiverem inteligência suficiente para ler o português, então VÃO-SE FODER.

Se um dia destes desaparecer sem rasto, podem-me encontrar em Guantanamo ou numa prisão no Iraque, Afeganistão ou outro país invadido pelos salvadores Amerdicas (e porque não Portugal???).

sexta-feira, novembro 18, 2005

Jornalistas?

Olá marinheiros.
Eu sei que há muito tempo que nada escrevo mas com o estado em que está portugal (sim, com letra pequena) a maior parte das vezes só apetece escrever merda, merda, merda, ....

No entanto hoje levantei-me mais bem disposto e como à sexta compro o 24 horas (é o unico jornal diário que tem um BOM suplemento de informática) fui a ler na viagem para a escravidão.

Atão não é que dos poucos artigos que leio (Quentes e Boas) vem a autora (uma Gracinha de nome) a dizer que a entrevistadora do Cavaco na TVI está a ser acusada de preparar bem demais a entrevista e consequentemente ter entalado o bicho.

PORRA! Quando finalmente um jornalista, no meio da escumalha jornalistica que temos, prepara-se bem para cumprir a sua função ... PUMBA na cabeça.

Conclusão - mais uma vez em portugal não se pode ser bom profissional. O que queremos é medianismo, não levantar ondas não colocar os poderosos em cheque, não fazer as perguntas difíceis ou seja, é preciso é adormecer o pagode, dar-lhe telenovelas, 1as. companhias e nada que faça pensar.

É obviamente impossível em portugal ter um watergate ou qualquer coisa semelhante, isto para não falarmos numa operação "mãos limpas", senão veja-se para onde vão todos os casos judiciais que incluiem gente "poderosa".
Isto só lá vai vestido um casaquinho de C4 e ir visitar a AR. Tinha a vantagem de reduzir a taxa de desemprego e diminuir substancialmente o numero de chulos que nada lá fazem.

sábado, novembro 12, 2005


Alegrem-se, infelizes portugas! O Carnaval está a chegar e trás mais um palhaço de volta!

segunda-feira, novembro 07, 2005

Vegetais, bifes e cavacos

Desde que prima Ossétia se tornou vegetariana, a vida cá em casa já não tem o mesmo sabor. Para já deixámos de comer de frango constipado por causa da gripe, e agora a rica priminha não nos deixa tocar no bifinho de alcatra marca carrefour que em dias de fartura servia para tapar os buracos dos sapatos do Arturzinho. O pobre rapaz anda tão mal que já só tem buracos em vez de sapatos, sintomas da crise que se vive cá em casa e que não há meio de passar.
Mas no meio desta desgraça, o tio Américo que está na América enviou-nos por DHL uns hamburgueres genuínos do Texas, nada como essa merda que comemos aqui na Europa, pois cheiram pior, sabem pior e têm 10 vezes mais colesterol que os seus congéneres europeus. Lá conseguimos remendar os buracos dos sapatos do Arturzinho, que viu assim o cheiro característico dos seus pés ser substituído pelo cheiro avassalador dos bois texanos, coisa que felizmente já nós estávamos habituados.
A prima Ossétia é que não gostou nada da coisa, e, entre uma mastigadela de ensopado de alcachofra e um gole de sumo de couve lombarda disse das boas e das bonitas sobre a nossa dependência da carne bovina e afins, e até eu que sou um insigne apreciador de coxas, especialmente as da prima Ossétia, fiquei deveras envergonhado e prometi a mim mesmo nunca mais olhar um pedaço de carne de frente. Bom, olhar é diferente de tocar ou mastigar, não é?
Mas o que mais me emocionou nestes últimos tempos foi a apaixão assolapada que a avó Urzelina demonstrou por aquele sujeito fininho e de queixo rabeca que parece que já é presidente antes de ser eleito, o tal Cavaco, Silva de alcunha. Calculem que avó colocou uma fotografia do senhor recortada do Expresso na mesinha de cabeçeira, entre a imagem da senhora de Fátima e a capa do último CD pirata do Marco Paulo, que a avózinha comprou recentemente na feira do Relógio a um paquistanês da Reboleira. E todas as noites antes de adormecer faz a sua reza habitual, mas introduzindo na lamúria uma petição divina pela boa saúde do sr. Silva, Cavaco de alcunha, pois é o único ser erecto à face da terra capaz de salvar a família do desastre. Pelo sim pelo não, a avó Urzelina já fez saber aos quatro ventos e em anúncios de jornal que apoia o sr. Aníbal, Cavaco de apelido, e que não torna a cair no erro de alguns atrás de apostar no candidato errado que veio a vencer as eleições e que levou o pessoal a colar bifes de alcatra nos sapatos.
Mas isto já me cheira a esturro, mesmo com o cheiro abominável dos hamburgueres texanos do tio Américo. Primeiro a prima Ossétia volta-se para os vegetais, depois a avó Urzelina converte-se ao cavaquismo, abandonando de vez os adventistas do sétimo dia, e para rematar o tio Augusto, que vivia no sótão no meio de posters de vaginas, perdeu definitivamente a razão, confundindo-se a ele próprio com uma amiba do período Protozeico.
E eu? Que faço no meio disto tudo? Está fora de hipótese tornar-me vegetariano, não condiz com a minha concepção do mundo. Apoiar Cavaco, o Silva? Ainda não estou deficiente mental, apesar de para lá caminhar a passos largos. Comer hamburgueres texanos? Já me basta comer o pão que o diabo amassou...
De modo que fico para aqui a cismar e a pensar nas coxas da prima Ossétia, e talvez chegar à conclusão que o Tio Augusto é que está certo no seio desta família...